Estamos no reinado de D. Maria I, a Piedosa, a qual,
escravizada ao seu fanatismo religioso e ás opiniões dos seus confessores,
fazia Portugal caminhar para a ruína e a decadência. Era muito preocupante a
situação do Brasil. A capitania de Minas Gerais era, na época, a maior fonte de
riquezas da Colônia, com as suas minas de ouro e diamantes, o que a tornava o
alvo dos ambiciosos.
Todos queriam se apossar das suas riquezas. Os padres queriam
o ouro para as suas Igrejas suntuosas. Os magistrados queriam a todo custo
enriquecer antes de voltar para Portugal; e os agentes do fisco cumpriam
rigorosamente as ordens da corte de Lisboa, que era naquela época uma fonte
onde os parasitas da nobreza iam sugar pensões extraordinárias e fabulosas.
Anuncia-se a "derrama"; isto é, cobrança atrasada
do imposto do ouro. Em Minas, os brasileiros consideram a gravidade da situação
e, achando que o Brasil já tem condições de reger seus próprios destinos,
começam a traçar os planos da libertação. Reúnem-se, em Vila Rica, vários nomes
já muito conhecidos.: Inácio Alvarenga, Joaquim José da Silva Xavier – O
Tiradentes - Cláudio Manoel da Costa, Tomaz Gonzaga e outros. As primeiras
providências consistiam em infiltrar as idéias de liberdade nas outras
Capitanias.
Procuram então os nossos irmãos de Pernambuco e de São Paulo,
e pedem também o apoio do embaixador da América do Norte em Paris. Mas, nem o
embaixador em Paris nem as Capitanias de Pernambuco e São Paulo se interessaram
pela idéia. É nesse momento que surge a figura de Joaquim Silvério dos Reis, o
qual leva todo o plano ao Visconde de Barbacena, português que, naquela época,
ocupava o cargo de Governador de Minas Gerais. Querendo fazer morrer as idéias
de liberdade, na sua fonte, o Governador manda imediatamente prender Tiradentes,
que se achava no Rio de Janeiro, e também os elementos da conspiração em Vila
Rica. Todos são condenados à morte, porém, mais tarde, D. Maria I muda as penas
de morte em degredo perpétuo, com exceção de Tiradentes que teria de morrer na
forca e seu corpo esquartejado e exposto em praça pública. Conta-nos Humberto
de Campos que o mártir da Inconfidência, num gesto de heroísmo, sente uma
alegria sincera pela expiação cruel que só a ele fora reservada e entrega o
espírito a Deus no dia 21 de abril de 1792 e que, imediatamente após a
execução, no momento exato do seu desencarne, Ismael o recebe carinhosamente,
dizendo-lhe: " - Irmão querido, resgatas hoje os delitos que cometestes
quando, no passado, fostes um cruel inquisidor. (...) Regozija-te pelo desfecho
dos teus sonhos de liberdade. (...). Se o Brasil se aproxima da maioridade como
nação, ao influxo do amor divino, será o próprio Portugal quem virá trazer até
ele os elementos da sua emancipação política, sem ser ás custas do derramamento
do sangue fraterno". ( Xavier, Francisco Cândido, 1996 p.122) A seguir,
foi ele transportado por espíritos superiores que não lhe permitiram assistir à
cena do esquartejamento. Daí a alguns dias, a rainha d. Maria I enlouquecia,
ferida pelo remorso. Ela havia sido uma rainha muito cruel. Com muita
freqüência e tranqüilidade, assinou várias sentenças de morte.
Daí por diante, os brasileiros não têm outro pensamento a não
ser a Independência, mas o predomínio dos portugueses, desde a Bahia até o
Amazonas, representava sério obstáculo. Os mensageiros de Ismael se
multiplicavam em todos os setores visando conciliar a todos, com a finalidade
de preservar a unidade territorial do Brasil. A equipe espiritual se reúne no
Colégio de Piratininga, sob a direção de Ismael.
Ali se encontram heróis das lutas maranhenses e
pernambucanas, mineiros e paulistas. Nessa ocasião, Ismael dirige a todos a sua
palavra cheia de ponderação e ensinamento, e encerra a sua alocução,
dirigindo-se a Tiradentes, dizendo: " - O nosso irmão martirizado há
alguns anos pela grande causa, acompanhará D. Pedro em seu regresso ao Rio e,
ainda na terra generosa de São Paulo, auxiliará o seu coração no grito supremo
da liberdade". ( Xavier, Francisco Cândido, 1996 p.158).
Conforme a promessa de Ismael a Tiradentes no momento supremo
do seu sacrifício, alcançamos a Independência, sem o derramamento de sangue.
Bastou um grito às margens do Ipiranga: "INDEPENDÊNCIA OU MORTE".
Tivemos a Independência, mas não tivemos a morte. Informa-nos ainda o autor espiritual
que, quando D. Pedro dava o grito que nos tornava uma nação livre, não
suspeitava que naquele momento ele era um dócil instrumento de um emissário
invisível, que velava pela grandeza da nossa pátria: o nosso mártir e herói
TIRADENTES.
A Missão do Brasil como Pátria do Evangelho Célia Urquiza de Sá
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