quinta-feira, 3 de maio de 2012

MAIO O MÊS DE JEHANNE D’ARC



Maio de 1915
Depois do longo sono do inverno torno, a terra a vestir-se de suas galas.
No vasto jardim publico que se estende sob minhas janelas, às moitas de flores brilhantes alternam com as verdes folhagens. Os cisnes deslizam majestosamente no tranqüilo lençol das águas, e, nos altos ramos, as aves canoras, como que inebriadas, se entregam a intermináveis concertos. Uma suave claridade envolve todos as coisas, enquanto ao longe, na linha de frente, o fumo da peleja rasteja o sol, e encobre o céu.
Estamos em Maio, mês de Joana d’Arc, assim chamados porque nele se reúnem as datas dos mais memoráveis acontecimentos da vida da heroína: 7 e 8, libertação de Orleans ; 24, sua prisão em Compiègne; 30 o seu martírio em Ruão.
Nesta época do ano, meu pensamento comovido se dirige sempre à Virgem Lorena como a um tipo de força e beleza moral. Nela se reúnem as qualidade mais antagônicas na aparência: energia e sensibilidade, firmeza e candura, idealismo e senso pratico. Invoco-lhe o espírito; medito no seu sacrifício.
Nos dolorosos transes por que passa a França, essa invocação toma caráter geral e grandioso; é o supremo apelo de uma nação ameaçado, calcado aos pés por sanguinário inimigo; é o grito de angustia de um povo que não quer sucumbir e que implora o auxilio dos poderes celestes, das forças invisíveis.
Antes da guerra praticava-se, sem duvida, o culto de Joana; numerosos eram os fieis; mas, entre estes, muitos consideravam os fatos de sua vida como coisas vagas, longínquas, quase lendárias, esbatidas pelo remoto do tempo.
As tentativas de monopolização da heroína pelo clero católica tinham levantado contra ela um partido político inteiro.
A proposta de criar uma festa nacional para comemoram-lhe a memória dormia ha mais décadas no arquivo da Câmara. Um enxame de críticos meticulosos e malévolos atirou-se aos pormenores de sua historia, para contesta-os, denegri-los, ou pelo menos lhes empanar o brilho.
Um Anatole France a apresentava aos nossos contemporâneos como uma mística quase idiota; Thalamas chegava mesmo a injuria-a. Hanotaux referia-se a ela mais dignamente, mas queria fazê-la passar por instrumento das ordens religiosas mendicantes, o que era pura fantasia.
O Messias da nossa terra, admirado e glorificado pelo mundo inteiro, chegaram os Franceses a transformar em assunto de polemica e discórdia.
A mutação hoje é completa. Sob a tempestade de ferro e fogo que a esmaga, na angustia que a estrangula, a França em peso volve: o pensamento para Joana e lhe invoca o socorro.
Escoram-lhe que salve segunda vez a pátria invadida.
A esses apelos acudindo do seio do espaço, ela paira sobre nossas misérias e dores para as atenuar e consolar.Faz mais: á frente de um exercito invisível, opera na linha de frente, transmitindo aos nossos soldados a chama sagrada que a abrasa, arrastando-os ao combate, á Vitória.
Entre os espíritos que a rodeiam, há poderosos e bem-aventurados; ela, porém, a todos domina com a sua sublime energia. A filha de Deus tomou a peito a nossa causa. Certa de tal auxilio na terrível luta em que se empenhou, a França não sucumbira.
E sabe-se tudo quanto devem sofrer esses nobres Espíritos com o contacto da terra? A natureza deles, sutil, purificada lhes torna aflitivas a permanência em nosso mundo inferior. Precisam de constante esforço de vontade para se manterem na sua atmosfera saturada de mãos pensamentos e de fluidos grosseiros, agravados ainda pelas vibrações das paixões violentas desencadeadas pela atual guerra.
Acrescentai a isso o espetáculo das chacinas, os montes de cadáveres, os estertores dos moribundos, os gritos lancinantes dos feridos, a vista das medonhas chagas produzidas pelos explosivos por todas as maquinas de morte que consigo acarretam os exércitos modernos.
Que de pungentes emoções por conter, por dominar! Joana presenciou, sem duvida, na idade media, cenas desse gênero, mas em proporções muito menores!
Ela reagirá energicamente contra qualquer falecimento, pois, diz ela, tudo se torna secundário, tudo desaparece ante o fim essencial, o fim por alcançar: a libertação da pátria.
A irradiação da sua força fluídica estende sobre todos, até sobre os ingleses, ora nossos irmãos de armas. Entre os nossos soldados, alguns, dotados de faculdades psíquicas, a vêem passar no fumo das pelejas; todos, porém, intuitivamente, sentem a presença e nela põem a sua suprema esperança. Dai as qualidades heróicas desenvolvidas, qualidades essas que causam decepção aos alemães, assombro a todos os que, não sem razão aferente, acreditavam na irremediável decadência de nossa raça.
Assim como dominou ela o décimo quinto século, assim o vulto de Joana d'Arc dominará o nosso tempo. E nela e por ela que se fará à união da pátria.
Ontem ainda, como no tempo Carlos VII, a França estava desunida, dilacerada por facções políticas geradas pela cobiça, por apetites inconfessáveis. Na hora do perigo, tudo o se desfez em fumo e calou-se, para deixar que pais fizesse ouvir sua voz e seus apelos aos poderes do alto.
Os próprios sectários do radicalismo, que ainda combatiam Joana d'Arc no Palais-Bourbon, se voltam para ela reverentemente.
A 26 de Abril, o senador Fabre escrevia; Mauricio Barres: Acabo de receber uma carta do Sr. Leon Bourgeois em que me diz: Podeis contar com a minha cordial adesão á festa nacional de Joana d'Arc e acrescentava: Eis, pois, conquistados Hervé, Clemenceau e Bourgeois. Joana d'Arc nos protege. todos. Certos políticos já vêem próxima a hora em que o governo, apoiando-se em todos os partidos, glorificará em Joana essa sagrada união que tornou possível a obra libertadora. Em compensação, outros objetam que nada se pode dizer nem fazer em honra de Joana enquanto os Ingleses estiverem no solo francês. Para assim se exprimirem, é mister bem pouco conheçam o sentimento de nossos aliados para com a heroína. Desde Shakespeare, ele lhe tributou admiração sempre crescente. Todos os anos, nas festas de Ruão, figura uma delegação inglesa e agora, que ele estabeleceram uma de suas bases de operação nessa cidade, não deixam de manter na praça do « Vieux-Marché», no próprio lugar do suplicio, braçadas de flores atadas por uma faixa com as cores britânicas.
A 16 de maio findo, o Reverendo A. Blunt. Capelão da embaixada da Inglaterra, ao depor uma coroa aos pés da estatua eqüestre da praça alas Pirâmides, dizia:
Vimos, como membros da colônia britânica de Paris, depor algumas flores aos pés da estatua Joana d'Arc, a intrépida guerreira de França.
Reconhecemos que seu espírito de patriotismo. Coragem e de sublime abnegação anima o exercito francês de hoje e estamos convencidos de que esse espírito o levará á Vitória.
O grande periódico de Londres, o Times, consagrava á memória da Virgem Lorena, ha alguns dias, um notável artigo que resume todo o pensamento inglês sobre esse nobre assunto.
Não ha em toda a idade media, historia mais singela e mais portentosa, mais dolorosa tragédia do que a pobre pastorinha que, pela fé ardente, ergueu a pátria das profundezas da humilhação e do desespero, para sofrer a mais cruel e a mais infamante das mortes pela mão cruel de seus inimigos. A elevação e a beleza moral do caráter de Joana lhe granjearam o coração de todos; os Ingleses se lembram com vexame do crime e que ela foi vitima.
Não é, porém, nem pelo amor da pátria, nem pela coragem na peleja, nem pelas visões místicas, que o mundo inteiro glorifica Joana Arc, é porque, em época triste e dolorosa, ela provou, por palavras e obras, que o espírito da mulher cristã vivia ainda entre os humildes e os oprimidos e produzia profusamente incomparáveis frutos. Algum dia houve natureza mais reta, terna, mais cândida, mais profundamente piedosa?
Antes mesmo que tivesse tido acesso junto ao rei e que lhe tivesse arvorado a bandeira, o povo, por toda a parte, nela acreditava. A força da vontade, a elevação dos pensamentos, a intensidade do entusiasmo venceram todas as oposições.
E meiga e complacente para com os prisioneiros. Até para os Ingleses sua alma se mostra repleta de piedade. Convida-os a que a ela unam para uma grande cruzada contra o inimigo da cristandade.
E quando, com o auxilio de alguns traidores, que os houve entre seus compatriotas, ele, a colheram numa cilada e a fizeram condenaram á morte horrível, suas ultimas palavras foram de perdão para seus algozes.
Um patriota francês não se exprimiria melhor Com certeza, não, Joana não tinha ódio aos Ingleses; queria simplesmente po-los fora do território da França. Como o diz o «Times», pensava mesmo em associa-os aos Franceses numa grande empresa cuja direção ela tomaria. Escrevia lhes se derdes satisfação ao rei de França, poderá ainda vir em companhia dele, onde quer que os Franceses pratiquem o mais belo feito que jamais foi praticado pela cristandade.
Sua clara visão, atravessando os séculos, referiria aos sucessos presentes, a essas gigantes luta da civilização contra a barbaria, na qual tencionava intervir?
Pela violência, pelo terror, a Alemanha quis impor ao mondo a sua horrível cultura, essas teorias implacáveis do super-homem, de que Nietzsche se constituiu profeta e que suprimem o que ha de mais nobre, mais poético, mais belo na alma humana, isto é, as dualidades fidalgas e com elas a compaixão, a piedade, a bondade. O Deus do Evangelho, que Jesus nos ensinou a amar, os Alemães quiseram substituía-o por não se sabe que divindade lôbrega e cruel, que muito menos se assemelha ao Deus dos cristãos do que ao Odin escandinavo em seu Vahala maculado de sangue.
A essas concepções de outras eras, onde ao mais grosseiro materialismo se une um misticismo bárbaro, devemos opor, sob a égide da Virgem de Lorena, uns espiritualismos claros e adiantados, feitos de luz, justiça e amor.
Esse espiritualismo revelará ao mundo a lei eterna que estabelece a liberdade, a responsabilidade de todos os entes e que lhes impõe o dever de reparar, através de existenciais sucessivas e dolorosas, todo o mal por ele praticado.
Depois da expiação ela assegura o ressurgimento e a partilha de todas as alegrias e bens celestes, na justa proporção dos méritos conquistados e dos progressos realizados.
Esta é a doutrina que Joana preconiza; pois não se ocupa somente da libertação da pátria. De há muitos anos coopera também no seu ressurgimento moral. Todos aqueles que frequentam os centros em que ela se manifesta sabem com que carinho vela por esta doutrina, anima-lhes o defensor e trabalha pela sua difusão no mundo.
Esta virgem inspirada cumpriu outrora missão que, rio decorrer dos séculos, havia de servir de exemplo para todos. Vê-se hoje que o papel da mulher poderia ser o de fortalecer o animo do homem e excitar-lhe a dedicação á pátria. De fato, no seio da família é, sua missão mais modesta: mas a educação que dá ao filho deve despertar-lhe atriz a energia e o valor, aumentarem-lhe o amor por todas as virtudes que dele decorrem. Destarte se verá desenvolverem-se as energias da nação; a fusão dos partidos tornar-se-á mais fácil, bem como a missão de todos, unidos por um nobre ideal comum.
Desunidos na paz, os Franceses, se reconciliaram ante o perigo. Cépticos ontem, hoje já fazem apelos ás forças divinas e humanas capazes de regenerar a raça, aos bafejos do alto ue vivi ficam as almas e despertam as adormecidas qualidades viris.
Estamos certos de que persistirá este estado de espírito. Ha, no atual momento, em a nossa linha de frente, cerca de três milhões de homens que experimentam iguais fadigas e afrontam perigos iguais. E impossível que as provações passadas não constituam poderoso elo e que, unidos pelo coração e pelo pensamento não trabalhem em comum para o ressurgimento da pátria.
Joana os auxiliará na obtenção desse desideratum. Por seu intermédio, afirmamos nós, far-se-á a união de todos os partidos, porque ela não é propriedade de nenhum deles; pertence a todos, pois todos acharão em sua vida razão para a venerar. Os realistas glorificarão a heroína fiel que e, sacrificou pelo rei; os crentes, a enviada providencial que apareceu na hora dos desastres. Os filhos do povo amarão a camponesa que se armou para a salvação da pátria. Os soldados se lembrarão de que, como eles, ela sofreu e por duas vezes foi ferida: os infelizes, que suportou todas as amarguras, todas as provações e bebeu o cálice das dores até a lia. Nela verão todos uma manifestação da força superior, da força eterna encarnada em urra ser humano para executar obras capazes de levantar as inteligências e reconciliar todos os corações.
Léon Denis
O mundo invisível e a guerra

O ESPÍRITA ANTE A POLÍTICA







Em sentido lato, a política se entrecruza com várias outras ciências, entre elas a Filosofia, a História, a Economia, o Direito... Entretanto, é com a Sociologia que ela possui laços mais estreitos, visto que tem seu nascedouro na própria sociedade. Segundo essa visão, inspirada em Aristóteles, o homem é um animal social e político. Herança da Grécia antiga, berço da democracia, o termo política deriva-se do grego politikós, alusivo às antigas cidades gregas organizadas (pólis), que teriam dado origem ao modelo de vida urbano contemporâneo, onde os homens se aglomeram em busca da sobrevivência e do progresso, sujeitando-se a uma administração pública regulada por normas coletivas de convivência.

Na Idade Média, Tomás de Aquino (1225-1274) já preconizava que a finalidade da política é o bem comum. Modernamente, a política é designada como a “Ciência do Estado”, podendo ser definida como a arte de governar. Sob esse prisma, ela será sempre o exercício de alguma forma de poder. Quando utilizada corretamente, gera bem-estar e prosperidade, bem assim contribui para a manutenção da paz e da ordem.

O Espiritismo abrange todas as áreas do conhecimento, sob tríplice aspecto: científico, filosófico e religioso, razão pela qual não está alheio à Ciência política ou a qualquer outro ramo do conhecimento humano. Todavia, o Espiritismo não tem por missão específica fazer reformas sociais, mas, pela amplitude dos seus ensinamentos, é a doutrina mais apta a coadjuvar tais reformas, à medida que influencia a sociedade, estimulando o aprimoramento moral, sem que seja preciso acumpliciar-se com a política partidária, em contradição com o caráter laico (1) do Estado:

[...] A missão da doutrina é consolar e instruir, em Jesus, para que todos mobilizem as suas possibilidades divinas no caminho da vida. Trocá-la por um lugar no banquete dos Estados é inverter o valor dos ensinos, porque todas as organizações humanas são passageiras em face da necessidade de renovação de todas as fórmulas do homem na lei do progresso universal, depreendendo-se daí que a verdadeira construção da felicidade geral só será efetiva com bases legítimas no espírito das criaturas. (2)

A seu turno, qual seria a missão dos espíritas, enquanto homens no mundo? Sem embargo da tarefa de divulgação e da vivência dos princípios da Doutrina Espírita, ela é a mesma de qualquer indivíduo, religioso ou não, como elucidam os Espíritos na primeira obra básica. Consiste “em instruir os homens, em ajudá-los a progredir, em melhorar suas instituições, por meios diretos e materiais”. (3) Nesse contexto, será mesmo útil e necessário, para que o Espiritismo cumpra sua missão, a politização do Movimento Espírita, como defendem alguns?

Parece-nos equivocada a ideia de que o Movimento Espírita careça de engajar-se na militância política, fundando partidos ou organizando bancadas, como forma de se fazer representar perante os poderes constituídos, com o objetivo de divulgar, oficialmente, os seus princípios, colaborando, assim, com a reforma social, no combate às mazelas sociais.

De má lembrança são as conspurcações que o movimento cristão primitivo sofreu (e que o Espiritismo intenta restaurar na atualidade), sobretudo a partir do século III, momento em que se deixou seduzir pela política de Roma, cujo império estertorava graças aos abusos da governança.

É óbvio que o espírita, individualmente, não está impedido de exercer a política. Se tiver vocação para isso e for chamado para essa tarefa, deve atender ao clamor de sua consciência e procurar exercê-la com dignidade, como fizeram tantos outros espíritas, por exemplo, Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulto, Cairbar Schutel e José de Freitas Nobre. Se isso vier a acontecer, espontaneamente, que jamais nos apartemos das diretrizes traçadas por André Luiz, que nos alerta sobre as tentações e os perigos de confundirmos “os interesses de César com os deveres para com o Senhor”. (4)

Diante disso, não é recomendável que os políticos, simpatizantes ou adeptos do Espiritismo, façam da tribuna espírita um palanque. Jesus, nosso guia e modelo, quando esteve entre nós, jamais postulou ou se valeu do poder político estatal para pregar a implantação do “Reino de Deus” na Terra. Não é a Doutrina Espírita que precisa da política e sim a política que precisa do Espiritismo. Isto é, progredindo moralmente, por influência do Espiritismo, a sociedade prepara, de forma natural, bons políticos e até estadistas para atuarem nas instituições públicas:

O discípulo sincero do Evangelho não necessita respirar o clima da política administrativa do mundo para cumprir o ministério que lhe é cometido.

O Governador da Terra, entre nós, para atender aos objetivos da política do amor, representou, antes de tudo, os interesses de Deus junto do coração humano, sem necessidade de portarias e decretos, respeitáveis embora. Administrou servindo, elevou os demais, humilhando a si mesmo.

Não vestiu o traje do sacerdote, nem a toga do magistrado. Amou profundamente os semelhantes e, nessa tarefa sublime, testemunhou a sua grandeza celestial.

Que seria das organizações cristãs, se o apostolado que lhes diz respeito estivesse subordinado a reis e ministros, câmaras e parlamentos transitórios? [...] (5)

Por isso mesmo, “Deus confere a autoridade a título de missão, ou de prova, quando julga conveniente, e a retira quando bem o entende”. (6) Emmanuel, tal qual André Luiz, também abordou essa questão delicada. Respondendo à pergunta: “Como se deverá comportar o espiritista perante a política do mundo”, (7) aconselhou:

– O sincero discípulo de Jesus está investido de missão mais sublime, em face da tarefa política saturada de lutas materiais. Essa é a razão por que não deve provocar uma situação de evidência para si mesmo nas administrações transitórias do mundo. E, quando convocado a tais situações pela força das circunstâncias, deve aceitá-las não como galardão para a doutrina que professa, mas como provação imperiosa e árdua, onde todo êxito é sempre difícil. O espiritista sincero deve compreender que a iluminação de uma consciência é como se fora a iluminação de um mundo, salientando-se que a tarefa do Evangelho, junto das almas encarnadas na Terra, é a mais importante de todas, visto constituir uma realização definitiva e real. (7) (Grifos nosso.)

Não devemos pedir ao Espiritismo o que ele não nos pode dar. (8) A estratégia equivocada de Judas que, embora bem intencionado, pretendia utilizar a política terrena, para acelerar o processo de implantação do Evangelho na Terra, é uma advertência perene a todos nós, pois “as conquistas do mundo são cheias de ciladas para o espírito e, entre elas, é possível que nos transformemos em órgão de escândalo para a verdade que o Mestre representa”. (9) A Humanidade progride por meio dos indivíduos, que se melhoram pouco a pouco. É pelo desenvolvimento moral que se reconhece uma civilização completa.

Os povos que só vivem a vida do corpo, cujo poder se baseia apenas na força e na extensão territorial, um dia fenecerão, pois a vida da alma prevalece sempre:

[...] Aqueles cujas leis se harmonizam com as leis eternas do Criador, viverão e servirão de farol aos outros povos. (10)

Todos podemos contribuir com nossa parte para acelerar as esperadas mudanças sociais: “A responsabilidade pelo aperfeiçoamento do mundo compete-nos a todos”. (11) O Espiritismo não depende da política terrena para atingir seus fins. Triunfará, porque se funda nas leis naturais, sem que seja necessário violentar a consciência dos incrédulos. Deus não conduz o homem por meio de prodígios, mas deixa que tenha o mérito da própria conquista, que se dará, mais cedo ou mais tarde, pelo convencimento da razão.

Que estas breves reflexões fortaleçam a esperança de todos os que mourejam na seara espírita, para que o Brasil consiga realizar a missão redentora da qual é depositário. Mais importante que as colossais riquezas naturais do seu vasto território é a imensa diversidade racial, social e religiosa de seu povo. Se soubermos vivenciar o Evangelho, conforme Jesus ensinou, inevitavelmente faremos jus à vocação assinalada pelos Espíritos superiores de “coração do mundo, pátria do Evangelho”.




REFORMADOR MAIO 2012




Referências:




1Estado laico não é o mesmo que Estado ateu. Mantém neutralidade em matéria confessional, não adotando nem perseguindo nenhuma religião (ver Preâmbulo e art. 19 da Constituição Federal brasileira).

2XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 60.

3KARDEC,Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 573.

4VIEIRA, Waldo. Conduta espírita. Pelo Espírito André Luiz. 31. ed. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 10, p. 46.

5XAVIER, Francisco C. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 59, p. 137.

6KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 17, it. 9, p. 346.

7XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 60.

8KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Guillon Ribeiro. 2. ed. esp. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Pt. 2, cap. 27, it.303, subit. 1, p. 476.

9XAVIER, Francisco C. Boa nova. Pelo Espírito Humberto de Campos. 3. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 24, p. 200.

10KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 788.

11XAVIER, Francisco C. Libertação. Pelo Espírito André Luiz. 31. ed. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 3, p. 46.

Salvação segundo a Doutrina Espírita





Estudando a Doutrina Espírita, compreendemos que Jesus não morreu por ninguém ou para salvar alguém do Inferno. Sua morte não significa a nossa salvação, e nem o perdão “adiantado” dos erros que cometemos.  

Jesus, o Espírito mais evoluído que já esteve na Terra, encarnou e viveu neste Mundo por amor a nós, para exemplificar o amor, o perdão, a caridade, a fé, sendo “o modelo e guia, o tipo de perfeição moral a que se pode aspirar na Terra”, definição essa contida na questão 625 de O Livro dos Espíritos. 

“Pelas obras é que se reconhece o cristão”, pois se apenas a fé salvasse o indivíduo, de que valeria a caridade, a reforma íntima, o trabalho no bem? Qualquer um que se arrependesse de seus erros antes de morrer seria salvo e iria para o Céu, mesmo se tivesse sido um ladrão ou assassino? E onde estaria, nesse caso, a justiça de Deus, que oferece tempo para alguns se arrependerem, enquanto que a outros arrebata do corpo físico sem a oportunidade de repensarem suas atitudes?  

Quando tomamos consciência do cometimento de uma falta, o arrependimento é importante, porém, ele não necessita de um rótulo religioso, mas sim ser complementado pela expiação e pela reparação do erro cometido.

Expiação são os sofrimentos físicos e morais consequentes do erro; e a reparação consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito o mal, apagando assim os traços da falta e suas consequências. 

A Doutrina Espírita elucida que a salvação de cada um – entendida como evolução espiritual, que é destino de todos os Espíritos criados por Deus - depende exclusivamente de si mesmo, e ocorre a partir da transformação moral, pois “fora da caridade não há salvação”. Assim, somente através da reforma íntima é possível salvar-se do comodismo, da indiferença, da omissão, da descrença, transformando a fé e a confiança em Deus em obras de amor e paz. 

Sendo o Céu um estado íntimo, construído pela consciência tranquila, e não um lugar de ociosidade e contemplação, o Céu de cada um só pode ser construído por ele mesmo, através de pensamentos, palavras e atitudes que revelem seu estado íntimo de constante aprimoramento espiritual, esforçando-se por tornar-se cada vez mais solidário, mais caridoso, mais parecido com Jesus


               Claudia Schmidt

                                                                                              PAZ, MUITA PAZ!