quinta-feira, 8 de novembro de 2012

BATISMO PARA SALVAR-SE

* Se vocês, espíritas, não são batizados, como é que poderão salvar-se? Esta pergunta me foi feita por um amigo em cama. Já houve quem me dissesse que o espírita deve batizar-se, sim, porque até Jesus o foi. A esta pessoa, baseando-me numa argumentação do médium e orador espírita José Raul Teixeira, respondi que, de fato, João Batista batizou Jesus nas águas do Jordão; no entanto, Jesus a ninguém batizou. Demais, os espíritos devemos procurar fazer tudo quanto Jesus fez, e não praticar tudo o que com Ele fizeram os homens porque, senão, neste descompassado, dentro em breve estaremos pregando um nosso semelhante qualquer numa cruz com uma coroa de espinhos.! Outros alegam que o batismo evita que se morra pagão. Ouvi muito esta afirmativa quando eu era criança. Aproveito a oportunidade para explicar que a palavra pagão vem do Latim paganus e não designava, um absoluto, o morador do Pagus, não. Quem informa é o ilustre catedrático paulista Silveira Bueno, católico convicto. Designava aquele que, para não servir na milícia romana, fugia das cidades, ia residir nos campos longe de Roma. Quando o Cristianismo triunfou com a aliança dos líderes políticos com os líderes religiosos, ao tempo de Constantino, século III depois de Cristo, deu-se à palavra paganus uma nova semântica, um novo significado. Desde então pagão seria todo aquele que não desejasse servir nas milícias celestiais, quer dizer, todo aquele que não quisesse pertencer ao Catolicismo. O batismo é um ritual muito mais antigo do que comumente se pensa. Vem dos povos mais antigos, dos gregos, dos egípcios, dos hindus. As religiões tradicionalistas, ainda hoje, às panas do século XXI, insistem em conservá-lo, no que nada temos que ver. É um direito que elas têm e não seremos nós, os espíritas, que iremos cercear o livre-arbítrio de quem quer que seja, desde que não haja prejuízo alheio. Só que a Doutrina Espírita pura e simplesmente dispensa este ritual. Ou qualquer outro ritual também como preces especiais, casamentos religiosos, oferendas ou coisas do gênero. Perdão se me torno repetitivo, porém penso como Napoleão, segundo o qual a mais importante figura da retórica é a repetição. O meu missivista, como ia dizendo, indagava como é que o espírita iria salvar-se pois que não fora batizado. A ele remeti longa cama. E porque talvez algum leitor amigo se defronte com esta mesma questão, atrevo-me sumariar a resposta enviada a ele. Devemos sempre fazer o devido esclarecimento espírita dos assuntos que nos são apresentados. Bem, pessoalmente, para usar de sinceridade, eu não aprecio esta palavra salvação, não. Prefiro a expressão redenção ou libertação espiritual Salvação, a meu ver, no que posso até estar errado, porque sou míope para longe e para perto, seria o oposto de perdição. Como não aceito a idéia de que Deus, definido por Jesus como Amor, deixe perder-se para sempre um só de seus filhos, dou preferência à redenção ou libertação espiritual. Mesmo porque Jesus declarou: Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará João, Cap. 8 vens. 32). O que liberta a criatura do sofrimento, decorrente da violação às leis divinas, é a prática genuína e desinteressada do Bem. É a vivência espontânea da Fraternidade. É a vontade ardente de ver no semelhante um seu irmão voltando ao proscêncio terrestre para progredir, daí ser merecedor de melhores demonstrações de estima e consideração. Nesse contexto, cabem duas palavras acerca do preconceito. Do preconceito racial, por exemplo. Determinado confrade fez um teste com um grupo de espíritas. Cada um dos componentes daquela brincadeira deveria fechar os olhos e imaginar-se sendo assaltado. Depois diria que emoção sentiu se fosse realidade o assalto. O leitor amigo poderá dizer qual foi a cor do assaltante imaginado pelos confrades espíritas envolvidos naquela experiência brejeira, porém muito significativa ! O que liberta a criatura é a Caridade, que, segundo uma definição do Irmão X, escrevendo pelo médium Chico Xavier, é servir sem descanso, é cooperar espontaneamente nas boas obras da comunidade, sem aguardar o convite ou o agradecimento dos outros, é não incomodar aquele que trabalha, é suportar sem revolta as (imitações alheias, auxiliando o próximo a supera-las). O que liberta a criatura da ignorância é a paciente leitura de livros que nos dizem porque vivemos, para onde iremos depois da morte do corpo físico (se é que ele morra, pois em verdade até ele simplesmente se transforma), de onde viemos ames do berço. Contudo, não basta a leitura. É necessária a sua reflexão. Impõe-se a vivência dos seus ensinos. Pois como já reconhecia Daudet, quanta gente há, em cuja biblioteca, poder-se-ia escrever "para uso externo", como nas garrafas das farmácias. Quer dizer, ler por ler simplesmente não vale a pena. Mister se faz modificar o comportamento, ampliar o horizonte cultural, aprofundar a análise do porquê da vida e sobretudo, repito, vivenciar o que os bons livros nos ensinam em termos de crescimento moral e espiritual. O que liberta a criatura de suas imperfeições é o seu desejo de despojar-se de seus vícios morais como a inveja, a cobiça, o ciúme, a ira etc. será, forcejando por ser mais paciente, mais humilde, mais prudente, mais humano diante das dores alheias, mais tolerante diante das falhas da outra pessoa, sem cair na alienação dizendo amém a tudo e a todos, com esta atitude muito cômoda concordando com erronias que não podem de jeito nenhum contar com a nossa anuência. O que liberta a criatura não é o batismo que recebeu em criança ou já adulto ao aceitar esta ou aquela solta religiosa. Não. O que liberta a criatura de seus erros do passado e de suas limitações anuais é este esforço diuturno de observar, na vida diária, tudo quanto o Cristo nos ensinou através da força do exemplo!... Fonte: Atualidade Espírita – Editora O Clarim

REFLEXÕES SOBRE A MORAL DIVINA

Não é raro conhecermos pessoas que, apesar de viverem em condições adversas, em ambientes viciosos, conseguem furtar-se às influências negativas do meio e se destacam na sociedade como homens e mulheres dignos. Há outras que, mesmo depois de terem experimentado uma vida de transgressões, crimes, prostituição e drogas, conseguem se recuperar, tornando-se referência para muitos outros indivíduos. Esses exemplos de superação mostram do que o ser humano é capaz, quando tem fé. No conhecido livro do escritor francês Victor Hugo (1802-1885), Os Miseráveis, também retratado em filme, encontramos a história de um ex-presidiário (Jean Valjean) que, ante um dilema moral, originado de um furto por ele praticado após ganhar a liberdade, foi inocentado pela própria vítima, o caridoso bispo Charles Myriel, atitude que causou um profundo impacto no ex-condenado, motivando-o, daí por diante, a se tornar um homem de bem. Esta obra, embora seja um romance de ficção social, é inspirada na realidade e nos faz refletir sobre a questão filosófica da moral, tratada em O Livro dos Espíritos. 1 A crença inata em um ser superior, comum a todos nós, sugere a existência de uma constituição divina insculpida na alma. Toda vez que infringimos as leis naturais, um juízo secreto nos diz que estamos no caminho errado. Dominados pelas paixões, nem sempre seguimos os ditames desse tribunal interior, ficando sujeitos, depois, ao arrependimento, à expiação e à reparação dos erros cometidos. Do ponto de vista espírita, “a moral é a regra de bem proceder, isto é, a distinção entre o bem e o mal. Funda-se na observância da Lei de Deus. O homem procede bem quando faz tudo pelo bem de todos, porque então cumpre a Lei de Deus”. 2 A infração das leis morais resulta numa sanção imposta pela própria consciência, que se traduz no remorso, sem prejuízo da eventual condenação imposta pela sociedade e suas instituições. O bem e o mal estão relacionados ao comportamento humano ditado pelo livre-arbítrio, pois “a noção de moralidade é inseparável da de liberdade”. 3 Procedendo corretamente, o homem dá mostras de que sabe distinguir o bem do mal. O bem é tudo o que é compatível com a lei de Deus e o mal é tudo aquilo que não se harmoniza com ela. Em resumo: quando fazemos o bem, procedemos conforme a lei de Deus, e quando fazemos o mal estamos infringindo essa lei. Nem todos, porém, se comprazem em fazer o bem, dependendo da evolução do indivíduo e dos valores que cultua. Quando o homem procura agir acertadamente, utilizando a razão e a reflexão, encontra meios de distinguir, por si mesmo, o que é bem do que é mal. Ainda que esteja sujeito a enganar-se, em vista de sua falibilidade, possui uma bússola que o guiará no caminho certo, que é o de colocar-se na posição do outro, analisando o resultado de sua decisão: aprovaria eu o que estou fazendo ao próximo, se estivesse no lugar dele? Esse método de pôr-se no lugar do outro para medir a qualidade de nossos atos é bem eficiente, quando nos habituamos a utilizá-lo, porque o metro de cada um está na lei natural, que estabelece o limite de nossas próprias necessidades, razão por que experimentamos o sofrimento toda vez que ultrapassamos essa fronteira. Por isso, se ouvíssemos mais a voz da consciência, estaríamos a salvo de muitos males que atribuímos a fatores externos ou à Natureza. Deus poderia se quisesse, ter feito o Espírito pronto e acabado, mas o criou simples e ignorante, dando-lhe, assim, a oportunidade de progredir pelo próprio esforço, para que tenha a ventura de chegar ao cume da jornada e exclamar, satisfeito: eu venci! Com o advento tanto do progresso e a consequente proliferação dos grupos sociais, caracterizados por sua diversidade cultural, como também das novas necessidades criadas pela modernidade e pelo avanço da tecnologia, somos tentados a pensar que a lei natural não é uma regra uniforme para a coletividade. Todavia, este modo de raciocinar é equivocado, uma vez que a lei natural possui tantas gradações quantas necessárias para cada tipo de situação, sem perder a unidade e a coerência, cabendo a cada um distinguir as necessidades reais das artificiais ou convencionais. A lei de Deus é a mesma para todos, independentemente da posição evolutiva do homem, que tem a liberdade de praticar o bem ou o mal. A diferença que existe está no grau de responsabilidade, como no caso do selvagem que, outrora, sob domínio dos instintos primitivos, considerava normal alimentar-se de carne humana, a saber: o homem é tanto mais culpado quanto melhor sabe o que faz. À medida que o Espírito adquire experiência, em sucessivas encarnações, alcança estágios superiores que lhe permitem discernir melhor as coisas. Portanto, a responsabilidade do ser humano é proporcional aos meios de que dispõe para diferenciar o bem do mal. Apesar disso, não se pode dizer que são menos repreensíveis as faltas que comete, embora decorrentes da posição que ocupa na sociedade. O mal desaparece à medida que a alma se depura. É então que, senhor de si, o homem se torna mais culpado quando comete o mal, porque tem melhor compreensão da existência deste. A culpa pelo mal praticado recai sobre quem deu causa a ele, porém, aquele que foi compelido, levado ou induzido a praticar o mal por outrem, é menos culpado do que aquele que lhe deu causa. Outrossim, o fato de se achar num ambiente desfavorável ou nocivo à moral, devido às influências dos vícios e dos crimes, não quer dizer que a criatura esteja isenta de culpa, se, deixando-se levar por essas influências, também praticar o mal. Em primeiro lugar, porque dispõe de um instrumento poderoso para superar as circunstâncias infelizes: a vontade. Em segundo, porque, antes de encarnar, pode ter escolhido essa prova, submetendo-se à tentação para ter o mérito da resistência. De outras vezes, o Espírito renasce em um meio hostil com a missão de exercer influência positiva sobre seus semelhantes, retardatários. Por outro lado, aquele que, mesmo não praticando diretamente o mal, se aproveita da maldade feita por outrem, age como se fosse o autor, isso porque talvez não tivesse coragem de cometê-lo, mas, encontrando o mal feito, tira partido da situação, o que significa que o aprova e o teria praticado, se pudesse ou tivesse ousadia para tanto. Enquanto Espíritos, quase todos nos equiparamos, na Terra, a condenados em regime de liberdade condicional, sujeitos, graças à misericórdia divina, a diversas restrições que, muitas vezes, nos são impostas para nos proteger das próprias fraquezas. Assim, podemos dizer que muitos de nós só não praticamos o mal por falta de oportunidade, considerando que nem sempre temos vontade forte o bastante para resistir a determinadas conjunturas, em virtude da ausência de autocontrole. O desejo de praticar o mal pode ser tão repreensível quanto o próprio mal, contudo, aquele que resiste às tentações, com a finalidade de superar-se, tem grande mérito, sobretudo quando depende apenas de sua vontade para tomar essa ou aquela decisão. Não basta, porém, que deixe de praticar o mal. É preciso que faça o bem no limite de suas forças, pois cada um responderá por todo mal que resulte de sua omissão em praticar o bem. Os Espíritos superiores são taxativos em dizer que ninguém está impossibilitado de fazer o bem, independentemente de sua posição, pois que todos os dias da existência nos oferecem oportunidades de ajudar o próximo, ainda que seja por meio de uma singela oração. O grande mérito de se fazer o bem reside na dificuldade que se tem de praticá-lo. Quanto maiores forem os obstáculos para a realização do bem, maior é o merecimento daquele que o executa. Contrário senso, não existe tanta valia em se fazer o bem sem esforço ou quando nada custa, como no caso do afortunado que dá um pouco aos pobres do que lhe sobra em abundância. A parábola do óbolo da viúva, contida em o Novo Testamento, 4 retrata bem tal circunstância. Finalizando, a essência da moral divina pode ser encontrada na máxima do amor ao próximo, ensinada por Jesus, porque abarca todos os deveres que os homens têm uns para com os outros, razão pela qual temos necessidade de vivenciar essa lei constantemente, porquanto o bem é a lei suprema do Universo que nos conduz a Deus “e o mal será sempre representado por aquela triste vocação do bem unicamente para nós mesmos [...]”. 5 Reformador Junho2010 1KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Q. 629-646. 2Idem, ibidem. Q. 629. 3DENIS, Léon. O problema do ser, do destino e da dor. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. P. 3, As potências da alma, item 22, p. 477. 4LUCAS, 21:1-4. 5XAVIER, Francisco C. Ação e reação. 28. ed. 2. reimp. Pelo Espírito André Luiz. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 7, p. 110.

sábado, 3 de novembro de 2012

EXISTE ESPÍRITA CATÓLICO?

Na verdade há o ESPÍRITA, o CATÓLICO-ESPÍRITA e o ESPÍRITA-CATÓLICO. O ESPÍRITA não faz uso de amuletos, patuás, imagens, escapulários, promessas, defumações, não reza repetidas vezes preces prontas, não faz novenas, não acende velas, não manda rezar missas de 7º dia, não batiza, não se casa no templo religioso, não faz uso de bebidas alcoólicas ou qualquer outra droga, é freqüentador e trabalhador da casa espírita e instituições de caridade, ele não fica ocioso porque acredita que “a fé sem obras (úteis) é morta”. Enfim, ele não fica dividido entre duas religiões e se esforça para ser melhor e útil hoje mais do que foi ontem e tentará ser amanhã mais do que foi hoje. O CATÓLICO-ESPÍRITA é o católico simpatizante da doutrina espírita. Frequenta o catolicismo, mas de vez em quando aparece na casa espírita para, por exemplo: tomar “passe”, buscar curas espirituais, cartas consoladoras, etc. Geralmente, quando alcança (ou não) seu objetivo, não aparece mais. O ESPÍRITA-CATÓLICO é freqüentador e trabalhador da casa espírita, mas casa-se na igreja, batiza o filho, usa amuletos, é supersticioso, manda rezar missa de 7º dia quando um ente querido desencarna, faz uso de bebidas alcoólicas, etc. Geralmente, são estes que querem implantar modismos de outras religiões na Casa Espírita. O espírita-católico diz não ser fácil se desvincular dos dogmas e rituais já que freqüentou muito tempo outra religião. Mas, quando se desvinculará? Que testemunho o espírita-católico dá de sua fé na doutrina para outras religiões? Será que não está dizendo, indiretamente, que freqüenta a casa espírita, mas o casamento de verdade, a melhor prece aos desencarnados, etc., é o da outra religião? Por que os protestantes, que se intitulam evangélicos, geralmente cortam o laço com a religião que freqüentavam com mais facilidade que o espírita-católico? É para se pensar já que o espírita lê e estuda mais, segundo estatísticas. Será que o espírita está lendo e não está entendendo ou não está se esforçando para entender? Sem escolher se é espírita ou católico, a doutrina nunca terá "espíritas" de verdade, terá apenas simpatizantes do Espiritismo. Precisamos de adeptos convictos para ajudar a divulgar a doutrina. Como diz Therezinha Oliveira, “o Espiritismo precisa de espíritas que ajudem na renovação das ideias religiosas e não conseguirá isso, se não buscar o que desconhece, se ocultar sempre o que já conhece e ceder sempre aos costumes religiosos tradicionais.” Se continuarmos com um pé cá e outro lá o Espiritismo nunca terá "espíritas" de verdade, mas apenas simpatizantes do Espiritismo.