quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Formação dos médiuns

É comum as casas espíritas brasileiras disporem, nos dias atuais, de estudo regular da Doutrina Espírita, destinado ao esclarecimento dos futuros trabalhadores espíritas, até mesmo para os que demonstram possuir vinculações com a área da mediunidade. Tal atividade tem como base ensinamentos fornecidos por Espíritos superiores que destacam a importância do conhecimento doutrinário. Assim, em O Livro dos Médiuns, Segunda parte, capítulo XVII, Allan Kardec transmite importantes orientações, fundamentais à formação de médiuns, de grande valia para os médiuns iniciantes e para as pessoas que já se encontram integradas em um grupo mediúnico. Antes de focalizarmos as ideias desenvolvidas no capítulo supracitado, recomendamos a leitura dos capítulos anteriores, fonte de dois importantes conjuntos de esclarecimentos espíritas: 1) ação, características e consequências das manifestações físicas e intelectuais dos Espíritos – capítulos I a X; 2) classificação dos médiuns, segundo a diversidade de manifestação da faculdade mediúnica – capítulos XI ao XVI. Os principais pontos destacados por Kardec, relativos à formação dos médiuns, são indicados em seguida. Lembramos, porém, que esses pontos tiveram como referência as análises e as observações do Codificador junto aos médiuns escreventes, utilizados para ilustrar o assunto. Como saber se alguém é portador de mediunidade [...] não dispomos até hoje de nenhum meio para diagnosticar ainda que de forma aproximada, que alguém possua essa faculdade. Os sinais físicos, que algumas pessoas tomam por indícios, nada têm de infalíveis. [...] Só há um meio de comprovar sua existência: é experimentar. 1 Resumo das orientações ao médium principiante O desejo natural de todo aspirante a médium é o de poder conversar com os Espíritos das pessoas que lhe são caras; deve, porém, moderar a sua impaciência porque a comunicação com determinado Espírito apresenta muitas vezes dificuldades materiais que a tornam impossível ao principiante. Para que um Espírito possa comunicar-se, é preciso que haja relações fluídicas entre ele e o médium. [...] Só à medida que a faculdade se desenvolve é que o médium adquire pouco a pouco a aptidão necessária para pôr-se em comunicação com o Espírito que se apresente. Pode acontecer [...] que aquele com quem o médium deseje comunicar-se não esteja em condições propícias a fazê-lo, embora se ache presente, como também pode suceder que não tenha possibilidade, nem permissão para atender ao pedido que lhe é feito. Antes, pois, de pensar em obter comunicações de tal ou tal Espírito, é preciso que o aspirante se empenhe em desenvolver a sua faculdade [...]. 2 No médium aprendiz, a fé não é condição rigorosa; sem dúvida lhe secunda os esforços, mas não é indispensável; a pureza de intenção, o desejo e a boa vontade bastam. 3 Uma coisa ainda mais importante a ser observada [...], é a calma, o recolhimento que se deve ter, aliados ao desejo ardente e à firme vontade de conseguir-se o que se quer [...] uma vontade séria, perseverante, contínua, sem impaciência nem desejo febricitante. 4 O médium principiante não deve exercitar a mediunidade isoladamente, a sós: Outro meio, que também pode contribuir fortemente para desenvolver a faculdade, consiste em reunir-se certo número de pessoas, todas animadas do mesmo desejo e comungando na mesma intenção [...]. 5 Escolhos da prática mediúnica Kardec destaca um fato que, ainda hoje, é causa de vulnerabilidade aos médiuns: as relações com Espíritos moralmente inferiores, principalmente com os que conservam traços de maldade. Eis o que tem a dizer a respeito: [...] Devem [os médiuns] estar muito atentos para que tais Espíritos não assumam predomínio, porque, caso isso aconteça, nem sempre lhes será fácil desembaraçar-se deles. Este ponto é de tal modo importante [...] que, não sendo tomadas as precauções necessárias, podem-se perder os frutos das mais belas faculdades. 6 Mais adiante, retorna ao assunto, reafirmando que “se o médium deve fazer tudo para não cair sob a dependência dos Espíritos maus, mesmo que de forma involuntária, mais ainda deve fazê-lo para não cair voluntariamente”. 7 Nessas circunstâncias, a sólida base espírita do médium, associada à respeitável conduta moral, não lhe permitem dar ouvidos a ideias e informações aparentemente inócuas transmitidas por alguns Espíritos, que não têm o menor escrúpulo em assinar a comunicação com o nome de entidades veneráveis: Todos os dias a experiência nos traz a confirmação de que as dificuldades e os desenganos encontrados na prática do Espiritismo resultam da ignorância dos princípios desta ciência [...]. 8 O exercício mediúnico, como tudo na vida, está sujeito à lei de progresso. Nenhum médium nasce pronto, pois a mediunidade é faculdade dinâmica. Os aprendizados adquiridos pelo estudo, pela experiência e pelo esforço de perseverar no bem apresentarão os frutos, no momento propício. Nesse aspecto, é preciso considerar que os programas destinados à formação de médiuns, por melhores que sejam não são infalíveis, visto que o médium, em si, representa um universo de aprendizado, como bem acentua Kardec: [...] Embora cada um traga em si o gérmen das qualidades necessárias para se tornar médium, tais qualidades existem em graus muito diferentes e o seu desenvolvimento depende de causas que criatura alguma pode provocar à vontade. As regras da poesia, da pintura e da música não fazem que se tornem poetas, pintores ou músicos os que não possuem o gênio dessas artes [...]. 9 Perda e suspensão da mediunidade Independentemente do gênero de mediunidade que o médium possua a faculdade “está sujeita a intermitências e a suspensões temporárias”, 10 relacionadas a vários fatores: “O uso que ele faz da sua faculdade é o que mais influi para que os Espíritos o abandonem”. 11 Doença, cansaço, peso, certas provações, obsessão são outras situações que podem dificultar ou impedir o exercício mediúnico, de forma temporária ou permanente. São ocorrências facilmente compreendidas e acatadas pelo médium esclarecido. Nessas circunstâncias, os programas de preparação de médiuns devem, necessariamente, objetivar o seu esclarecimento doutrinário e a sua melhoria moral, respectivamente com base nas lições do Espiritismo e do Evangelho. A propósito, ensina o Codificador: Ao lado dos médiuns propriamente ditos, aumenta diariamente o número de pessoas que se ocupam com as manifestações espíritas. Guiá-las em suas observações, assinalar-lhes os obstáculos que certamente encontrarão [...] iniciá-las na maneira de conversarem com os Espíritos, ensinar-lhes os meios de conseguirem boas comunicações, tal é a esfera que devemos abranger, sob pena de fazermos trabalho incompleto. 9 Referências 1 KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. P. 2, cap. 17, it. 200. 2 ______. ______. It. 203, p. 312-313. 3 ______. ______. It. 209. 4 ______. ______. It. 204. 5 ______. ______. It. 207. 6 ______. ______. It. 211, p. 320. 7 ______. ______. It. 212, p. 321. 8 ______. ______. P. 1, Introdução. 9 ______. ______. p. 14. 10 ______. ______. P. 2, cap. 17, it. 220, p. 327. 11 ______. ______. It. 220, subit. 3.