A DISCRIÇÃO
Mat. 7:6
6. Não deis o que é santo aos cães, nem lanceis vossas pérolas diante dos porcos, para que não suceda que as pisem aos pés e, voltando-se, vos mordam.
Um versículo
apenas, com singelo aviso de prudência em nossas atitudes em relação às demais
criaturas.
A frase, em forma de provérbio, tem o andamento próprio das frases sentenciosas (mâchál) dos livros de sabedoria, com o ritmo binário: isto é, repete-se o mesmo pensamento duas vezes, em conceitos sinônimos.
A frase, em forma de provérbio, tem o andamento próprio das frases sentenciosas (mâchál) dos livros de sabedoria, com o ritmo binário: isto é, repete-se o mesmo pensamento duas vezes, em conceitos sinônimos.
No hebraico
aparece, outra assonância entre as duas sentenças, o que nos oferece a razão da
escolha de "pérolas para opor a coisas santas. Com efeito, em hebraico,
"santo é qodesh, e "pérola é qedasha.
Os
comentadores, desde o início buscaram alegorias para os cães e os porcos,
dizendo tratar-se dos pagãos, os infiéis, os apóstatas, os ímpios, os
debochados, etc. Mais equilibrados, os primeiros cristãos (Didáché, 9: 5)
atribuem à idéia de não ensinar o encontro místico da Ação de Graças
(Eucaristia) a não ser aos que tivessem conseguido o mergulho" (batismo),
quando então se começava a disciplina dos arcanos e a iniciação gradual dos
catecúmenos.
Realmente
parece claro que Jesus não distinguiu povos nem raças, mas simplesmente
estágios evolutivos em qualquer raça ou povo. Não é o local do nascimento nem o
tipo de sangue, nem qualquer outra característica da formação do corpo material
que poderá decidir a respeito do estágio evolutivo das criaturas. Mede-se a
evolução pelo "espírito", não pela matéria. A comprovação evidente
aparece num exemplo típico do próprio Evangelho, quando Jesus diz (Mat. 8:10 e
Luc. 7:9) que "nem entre os judeus encontrou tão grande fé, quanto no
centurião", pagão adorador de Júpiter. Doutra feita, para exemplificar o
amor, opõe o apóstata samaritano ao "justo" levita e ao sacerdote israelita
(Luc. 10:33), deixando-os em posição de inferioridade evolutiva, como carentes
de amor.
O
ensinamento, portanto, resulta bastante claro: antes de revelar-se a verdade a
respeito da doutrina, verifique-se o grau de adiantamento de quem vai recebê-lo,
pois poderá suceder que ainda sejamos perseguidos e mortos pelos que não estão
em grau de entender o ensino. E isso de fato ocorreu a milhares de criaturas
que pretenderam divulgar fatos e conhecimentos, para os quais a humanidade –
mesmo representada pela nata de seus dirigentes espirituais - ainda não estava
preparada. Recordemo-nos dos mártires dos primeiros séculos entre os pagãos;
dos arianos assassinados pelos cristãos romanos no século 4.º dos numerosos
profetas (médiuns) que surgiram através dos séculos em toda a idade média, e
que foram sacrificados nas fogueiras pelos próprios cristãos; e mais de
Galileu, de Savonarola, de Giordano Bruno, de João Huss, de Joana d’Arc, e de
tantos milhares que nem podemos enumerar.
Daí a
necessidade de prudência na divulgação das realidades espirituais, que só devem
ser reveladas aos que estão aptos a compreendê-las e, assimilando-as, vivê-las.
A
admoestação taxativa vem esclarecer-nos, como de outras feitas ainda veremos a
razão que levou Jesus (a individualidade) a falar e a agir sempre por
metáforas, por exemplos vivos que são verdadeiros símbolos, utilizando-se de
alegorias, de parábolas, de comparações, sem jamais dizer claramente qual o
segredo de seu ensinamento.
Daí
constituírem os Evangelhos uma obra realmente iniciática, revelando sabedoria
profunda, jamais podendo dizer-se que se trata de trabalho escrito por homens
comuns. São, de fato, uma revelação do mais alto teor, inspirados
intuitivamente, através dos aparelhos mediúnicos altamente sensíveis que foram
os evangelistas, cada um captando a mesma inspiração de acordo com o seu
próprio grau de evolução espiritual. Essa a razão de ser João - o místico - o
de mais altos e largos vôos, e também a causa de que muitos outros
”médiuns", nessa ocasião, tenham captado a mesma inspiração, mas, por
serem pouco evoluídos, tenham escrito textos fracos, hoje catalogados como
“apócrifos". Só mesmo os quatro de maior sensibilidade psíquica
conseguiram atingir a noúre mais elevada, que naquela época constituía a noosfera
do planeta, em virtude da aproximação psíquica de Jesus.
Dessa forma,
os Evangelhos podem ser compreendidos e interpretados em vários planos: 1.º o
literal, como o lê a maioria da massa humana que dura há séculos, grandemente
aproveitando as palavras sábias e os exemplos maravilhosos; 2.º o moral, que se
eleva um pouco mais, verificando as consequências reais que ali aparecem em
todas as frases, belas e cheias de sabedoria; 3.º o alegórico, que já entrevê
ensinos mais profundos, lidos nas entrelinhas, quando se percebe que as
palavras são representações de outros planos mais altos, exprimindo coisas
diferentes do que exprimem textualmente as palavras; 4.º o metafórico, que dá
um passo mais adiante, e que já muitos comentadores perceberam plenamente,
divulgando seus conhecimentos.
Essas quatro
interpretações referem-se todas à personalidade, em seus quatro planos.
Mas outras
três existem, compreendidos pela individualidade; o 5.º, ou simbólico, que se
vem manifestando aos poucos, de acordo com a evolução da humanidade que caminha
sempre mais à frente; o 6.º, ou místico, que estamos tentando penetrar, apesar
de nosso atraso, mas grandemente ajudados pelas Forças do Alto; e o 7.º o
espiritual ou divino, que ainda não atingimos, em virtude de nossa deficiência evolutiva.
Na época
atual, onde numerosos já são os elementos capazes de perceber esse
aprofundamento, tornou-se possível penetrar e até mesmo divulgar, como estamos
fazendo, essas interpretações, sem que nos arrisquemos a ser perseguidos e
assassinados, como no passado. Mas, não obstante, grande número de irmãos de
ideal ainda não consegue aceitar o que dizemos e, por isso, recebemos a
perseguição moral de diversos tipos de acusação; estas nos alegram, pois
sabemos - disse-o Jesus - que seus discípulos seriam conhecidos pelas
perseguições e acusações que sofressem, já que o discípulo não é mais que o
mestre, nem o servo mais que seu senhor; e se o Senhor e Mestre foi acusado de
"endemoninhado, seus discípulos também o seriam" (Mat. 10:24-25). Daí
o medo que sentiríamos, se fossemos elogiados: não estaríamos mais figurando
entre os discípulos de Jesus.
Voltando ao
texto, encontramos a sabedoria do ensino: nem a todos os que revelam desejo de
saber, pode dizer-se a realidade total; nem tudo o que se percebe pode
revelar-se, senão a alguns. Quando escrevemos, porém, sabemos que os que não
podem compreender totalmente, não o compreendem mesmo, por mais claro que tenha
sido explicado. Por isso não hesitamos em publicar as idéias que nos são
trazidas, a respeito de aspectos menos divulgados do Evangelho, porque tudo o
que dizemos já foi sabido e vivido por milhares de criaturas, no oriente e no
ocidente.
Nada de novo
trazemos: apenas nova maneira de apresentar a Verdade Eterna, que jaz
silenciosa há séculos, oculta nas letras materiais das Escrituras, reveladas
pelo Cristo Cósmico ao coração da humanidade, através dos grandes Avatares, dos
Manifestantes divinos, que vieram à Terra para ajudar-nos a evoluir.
CARLOS PASTORINO
SABEDORIA DO EVANGELHO