Joana D’Arc nasceu em Domrémy, na região de Lorena na França.
Posteriormente a cidade foi renomeada como Domrémy-la-Pucelle em sua homenagem
(pucelle; donzela em português).
A data do seu nascimento é imprecisa, de acordo com o seu interrogatório
em 24 de Fevereiro de 1431, Joana teria dito que na época tinha 19 anos
portanto teria provavelmente nascido em 1412. Não se sabe a idade correcta de
Joana pois naquela época não importava a idade exacta, por isso o termo certo a
usar seria "mais ou menos". Joana declarou uma vez, quando
interrogada sobre a sua idade, ("tenho 19 anos, mais ou menos").
Movida por uma fé inquebrável, Joana d'Arc contribuiu de forma decisiva
para mudar o rumo da guerra dos cem anos, entre a França e a Inglaterra. Filha
de Jacques d'Arc e Isabelle Romée tinha mais quatro irmãos: sendo ela a mais
nova de todos. O seu pai era agricultor e a sua mãe ensinou-lhe todos os
afazeres de uma menina da época, como fiar e costurar. Joana também era muito
religiosa ia muito a igreja e frequentemente fugia do campo para ir orar na
igreja da sua cidade. No seu julgamento, Joana afirmou que desde os treze anos
ouvia vozes divinas. Segundo ela, a primeira vez que as escutou, vinham da
direcção da igreja acompanhadas de uma claridade e sensações de medo. Dizia que
às vezes não as entendia muito bem e que as ouvia duas ou três vezes por
semana. Entre as mensagens que ela recebeu estavam conselhos para frequentar a
igreja, e que deveria travar o domínio que havia na cidade de Orleães.
Posteriormente ela identificaria as vozes como sendo do Arcanjo São Miguel,
Santa Catarina de Alexandria e Santa Margarida. Desde que o Duque da Normandia,
Guilherme, o Conquistador, se apoderou da Inglaterra em 1066, os monarcas
ingleses passaram a controlar extensas terras no território francês. Com o
tempo, passaram a ter vários ducados franceses: Aquitânia, Gasconha, Poitou e a
Normandia, entre outros. Os duques, apesar de vassalos do rei de França,
acabaram por tomar este pais. Quando a França tentou recuperar os territórios
perdidos para a Inglaterra, deu origem a um dos mais longos e sangrentos
conflitos da história da humanidade: a Guerra dos Cem Anos, que durou na
realidade 116 anos, e que provocou milhões de mortes e a destruição de quase
toda a França setentrional. O início da guerra aconteceu em 1337. Os interesses
mais que evidentes de unificar as coroas concretizaram-se com a morte do rei
francês Carlos IV em 1328. Filipe VI, sucessor graças à lei sálmica (Carlos IV
não tinha descendentes masculinos), foi proclamado rei da França em 27 de Maio
de 1328. Felipe VI reclamou em 1337 o feudo da Gasconha ao rei inglês Eduardo
III, e no dia 1 de Novembro este respondeu plantando-se às portas de Paris
mediante o bispo de Lincoln, declarando que ele era o candidato adequado para
ocupar o trono francês. A Inglaterra ganharia batalhas como a Crécy (1346) e a
de Poitiers (1356). Mas uma grave enfermidade do rei francês originou uma luta
pelo poder entre o seu primo João I de Borgonha ou João sem Medo, e o irmão de
Carlos VI, Luís de Orleães. No dia 23 de Novembro de 1407, nas ruas de Paris e
por ordem do borgonhês comete-se o assassinato de Luís de Orleães. A família
real francesa estava dividida entre os que davam suporte ao duque da Borgonha e
os que o davam a Carlos VII, herdeiro de França ligados à causa de Orleães. Com
o assassinato de Luís de Orleães ambos os lados enfrentaram-se numa guerra
civil, onde buscaram o apoio dos ingleses.
Com a morte de Carlos VI, em 1422, Henrique VI da Inglaterra foi coroado
rei francês, mas os de Orleães não desistiram e mantiveram-se fiéis ao filho do
rei, Carlos VII, coroando-o também em 1422. Aos 16 anos, Joana foi a
Vaucouleurs, cidade vizinha de Domrèmy. Recorreu a Robert de Baudricourt,
capitão da guarnição armagnac estabelecida em Vaucouleurs para lhe ceder uma
escolta até Chinon, onde estava o herdeiro da coroa francesa, já que teria que
atravessar todo o território hostil defendido pelos aliados ingleses e borgonheses.
Quase um ano depois, Baudricourt aceitou enviá-la escoltada até ao herdeiro. A
escolta iniciou-se aproximadamente em 13 de Fevereiro de 1429. Entre os seis
homens que a acompanharam estavam Poulengy e Jean Nouillompont (conhecido como
Jean de Metz). Jean esteve presente em todas as batalhas posteriores de Joana
d'Arc. Vestindo roupas masculinas até á sua morte, Joana atravessou as terras
dominadas por Borgonheses, chegando a Chinon, onde finalmente iria encontrar-se
com Carlos, após uma apresentação de uma carta enviada por Baudricourt. Chegada
a Chinon, Joana já dispunha de uma grande popularidade, porém Carlos tinha
ainda desconfianças sobre a moça. Decidiram passá-la por algumas provas.
Segundo a lenda, com medo de apresentar Carlos diante de uma desconhecida que
talvez pudesse matá-lo, eles decidiram oculta-lo numa sala cheia de nobres
antes de a receber, Joana então teria reconhecido o rei disfarçado entre os
nobres sem que jamais o tivesse visto antes. Joana teria ido até ao verdadeiro
rei, curvando-se e dito: "Senhor, vim conduzir os seus exércitos à
vitória". Sozinha na presença do rei, ela convenceu-o a entregar-lhe um
exército com o intuito de libertar Orleães. Porém, o rei ainda a fazia passar
por provas diante dos teólogos reais. As autoridades eclesiásticas em Poitiers
submeteram-na a um interrogatório, averiguaram a sua virgindade e suas
intenções. Convencido do discurso de Joana, o rei entrega-lhe às mãos uma
espada, um estandarte e o comando das tropas francesas, para seguir rumo à libertação
da cidade de Orleães, que havia sido invadida e tomada pelos ingleses há oito
meses. Munida de uma bandeira branca, Joana chega a Orleães em 29 de Abril de
1429. Comandando um exército de 4000 homens ela consegue a vitória sobre os
invasores no dia 9 de Maio de 1429. O episódio é conhecido como a Libertação de
Orleães (e na França como a Siège d'Orléans). Os franceses já haviam tentado
defender Orleães mas não obtiveram sucesso. Existem histórias paralelas a esta
que informam que a figura de Joana era diferente. Ela teria chegado para a
batalha num cavalo branco, com armadura de aço, e segurando um estandarte com a
cruz de Cristo, circunscrita com o nome de Jesus e Maria. Segundo esta outra
versão, Joana teria sido apenas arrastada pelo fascínio sobrenatural dos seus
sonhos e disposta a cumprir a missão segundo a vontade divina e sem saber nada
sobre a arte da guerra comandou os soldados rudes, com ar angelical, e na sua
presença ninguém se atrevia a dizer ou contrariar fosse o que fosse. Pois ela apresentava-se
extremamente disciplinada. Após a libertação de Orleães, os ingleses pensaram
que os franceses iriam tentar reconquistar Paris ou a Normandia, e ao invés
disto, Joana convenceu Carlos a iniciar uma campanha sobre o rio Loire. Isso já
era uma estratégia de Joana para conduzir Carlos a Ruão. Joana dirigiu-se a
vários pontos fortificados sobre pontes do rio Loire. Em 11 e 12 de Junho de
1429 venceu a batalha de Jargeau. No dia 15 de Junho foi a vez da batalha de
Meung-sur-Loire. A terceira vitória foi na batalha de Beaugency, nos dias 16 e
17 de Junho do mesmo ano. Um dia após a sua última vitória dirigiu-se a Patay,
onde a sua participação foi pouca. A batalha de Patay, a única batalha em campo
aberto, já se desenrolava sem a presença de Joana d'Arc. Na primavera de 1430,
Joana D'Arc retomou a campanha militar e passou a tentar libertar a cidade de
Compiègne, onde acabou sendo dominada e capturada pelos borgonheses, aliados
dos ingleses, em 1430. Foi presa em 23 de Maio do mesmo ano. Entre os dias 23 e
27 foi conduzida à Beaulieu-lès-Fontaines. Joana foi entrevistada entre os dias
27 e 28 pelo próprio Duque de Borgonha, Felipe, o Belo. Naquele momento Joana
era propriedade do Duque de Luxemburgo. Joana foi levada ao Castelo de
Beaurevoir, onde permaneceu todo o verão, enquanto o duque de Luxemburgo
negociava a sua venda. Ao vendê-la aos ingleses, Joana foi presa numa cela
escura e vigiada por cinco homens. Em contraste com o bom tratamento que
recebera na sua primeira prisão, Joana agora vivia os seus piores tempos. O
processo contra Joana teve início no dia 9 de Janeiro de 1431, sendo chefiado
pelo bispo de Beauvais, Pierre Cauchon. Foi um processo que passaria à
posteridade e que converteria Joana em heroína nacional, pelo modo como se
desenvolveu e trouxe o final da jovem, e da lenda que ainda nos dias de hoje
associa a realidade com a fantasia.
Dez sessões foram feitas sem a presença da acusada, apenas com a
apresentação de provas, que resultaram na acusação de heresia e assassinato. No
dia 21 de Fevereiro Joana foi ouvida pela primeira vez. A princípio ela
negou-se a fazer o juramento da verdade, mas sobre forte pressão logo cedeu.
Joana foi interrogada sobre as vozes que ouvia, sobre a igreja militante, e
sobre seus trajes masculinos. No dia 27 e 28 de Março, Thomas de Courcelles fez
a leitura dos 70 artigos da acusação de Joana, e que depois foram resumidos a
12. Precisamente no dia 5 de Abril, estes artigos sustentavam a acusação formal
para a Donzela procurando a sua condenação. No mesmo dia 5, Joana começou a
perder saúde por causa de ingestão de alimentos venenosos que a fez vomitar.
Isto alertou Cauchon e os ingleses, que lhe trouxeram um médico. Queriam
mantê-la viva, principalmente os ingleses, porque planeavam executá-la. Durante
a visita do médico, Jean d’Estivet acusou Joana de ter ingerido os alimentos
envenenados conscientemente para cometer suicídio. No dia 18 de Abril, quando
finalmente ela se viu em perigo de morte, pediu para se confessar. Os ingleses
impacientaram-se com a demora do julgamento. O Conde de Warwick disse a Cauchon
que o processo estava demasiado demorado. Até o primeiro proprietário de Joana,
Jean de Luxemburgo, se apresentou a Joana fazendo-lhe a proposta de pagar pela
sua liberdade se ela prometesse não atacar mais os ingleses. A partir do dia 23
de Maio, as coisas aceleraram, e no dia 29 de Maio ela foi condenada por
heresia. Joana D’Arc foi queimada viva em 30 de Maio de 1431, com apenas
dezanove anos. A cerimónia da execução aconteceu na Praça do Velho Mercado às 9
horas, em Ruão. Antes da execução ela confessou-se com Jean Totmouille e Martin
Ladvenu, que lhe administraram os sacramentos da Comunhão. Entrou, vestida de
branco, na praça cheia de gente, e foi colocada na plataforma montada para a
sua execução. Após lerem o seu veredicto, Joana foi queimada viva. As suas
cinzas foram atiradas ao rio Sena, para que não se tornassem objecto de
veneração pública.
Era o fim da heroína francesa. A revisão do seu processo começou a
partir de 1456, quando foi considerada inocente pelo Papa Calisto III, e o
processo que a condenou foi considerado inválido, sendo que, em 1909 a Igreja
Católica autoriza a sua beatificação. Em 1920, Joana d'Arc é canonizada pelo
Papa Bento XV 489 anos depois de ter sido queimada viva como herética. Como é
possível que o Cristianismo que deveria ser intemporal nos seus princípios
consegue mudar de opinião tantas vezes consoante os interesses que nada tem de
Cristãos?... Existe uma outra versão que nos informa que vinte anos após a sua
condenação à fogueira, os pais de Joana d'Arc pediram que o Papa da época,
Calisto III, autorizasse uma comissão que, numa pesquisa serena e profunda,
reconheceu a nulidade do processo por vício de forma e de conteúdo. Joana d´Arc
desta maneira teve a sua honra reabilitada, e o nome de feiticeira, e bruxa foi
apagado para que ela fosse reconhecida pelas suas virtudes heróicas,
provenientes de uma missão divina.