Eu havia mandado o email “Não quero mediúnica desse jeito”,
que está tendo uma considerável repercussão e tem até gente retransmitindo pra
tudo quanto é canto que até eu já recebi, enviados por algumas pessoas, que
receberam de outras que fizeram a retransmissão, mas retirando o nome do autor
da matéria, portanto sem saber que a matéria saiu de mim.
No centro espírita onde o fato ocorreu, o assunto foi o comentário da
semana. Alguns trabalhadores, mesmo sem ter participado da reunião, já
qualificaram o espírito como um obsessor, havendo alguns que chegavam a querer
apostar, que se tratava mesmo de obsessor, mas outros, a maioria, estava
entusiasmada, alegre e até de certa forma felizes em ver um espírito falar do
jeito que aquele falou, ainda mais numa mediúnica dirigida por Jarbas, um dos
mais durões da casa.
Equivocadamente muitos espíritas acreditam que ações de obsessores são
muito mais freqüentes que a ação de benfeitores, ou melhor, o obsessor parece
que dá mais “ibope” no movimento espírita, assim como o satanás nas igrejas
evangélicas.
Todo mundo na expectativa da próxima mediúnica, que ocorreria na semana
seguinte.
Quinze minutos, antes das 20 horas, a sala já registrava uma lotação
como nunca tinha tido. Os dois ventiladores não davam conta do calor que fazia.
Presentes os médiuns e doutrinadores de sempre, mais o diretor
doutrinário da casa, que pouco participava das mediúnicas, um outro companheiro
de outro centro espírita que veio visitar aquela casa, por causa dos
comentários, e mais várias outras pessoas, também trabalhadoras, que encheram a
sala, que normalmente nunca havia comportado tanta gente numa mediúnica. Era
quase cadeira em cima de cadeira, de tanta gente presente.
Dentre as pessoas, seu João Honório, 76 anos de idade, um dos mais
antigos membros da casa, conhecido pelo seu constante mau humor, defensor
ferrenho de todas as formalidades que se estabeleceram no movimento espírita,
sempre fechado a qualquer nova idéia que pudesse surgir naquele centro. Ele
fora àquela reunião já pré-disposto a contestar o “tal espírito” que todo mundo
comentava na casa, já tendo formado um conceito de que seria um obsessor,
pronto a desmascará-lo, a fim de ostentar a sua posição de “quem mais
conhece o espiritismo” na casa, ou melhor, a única pessoa
que conhece a doutrina.
Em muitos centros espíritas, quase a maioria, tem sempre aquela criatura
que se acha a única conhecedora da doutrina.
-
“Ué. Por que tanta gente? O que houve? Alguma coisa paranormal ou fenomenal
está para acontecer aqui? Será que o próprio Jesus vai dar alguma
comunicação?... Sejam todos bem vindos, mas eu não entendi.”
Era os questionamentos do Jarbas Silveira, o mesmo dirigente dos
trabalhos da sessão da semana passada, surpreendido com a sala cheia.
Mas tudo bem. Exatamente às 20:00 horas... vinte e zero zero
mesmo, inicia-se o trabalho com a prece de abertura.
A mensagem não parou na sessão anterior. O espírito voltou a
manifestar-se, desta vez logo no início do trabalho, primeira comunicação da
noite, através da mesma médium, Dona Regina, que lhe dava passagem, sem
qualquer tremelique.
Sabia muito bem o espírito que mexer em conceitos congelados do
movimento espírita seria mexer num vespeiro, seria receber a qualificação de
obsessor e até comprometer a própria médium, através da qual estava se
comunicando. Mas resolveu insistir, na certeza da grande possibilidade de
encontrar espíritas que iriam raciocinar em cima de tudo o que ele falasse e
sugeriria, para depois, então, com a responsabilidade e a dignidade necessária,
tirarem as conclusões.
Jarbas abriu o trabalho e imediatamente o espírito chegou.
ALFREDO – Boa Noite amigos, que alegria estar aqui com vocês de novo. Boa
noite Seu João, tudo bem? Trago-lhe o abraço da Dona Guilhermina que pediu para
lhe transmitir, caso o encontrasse nesta seção.
Soube-se depois que Dona Guilhermina foi a mãe do seu João Honório,
desencarnada em 1948 quando ele contava com apenas 12 anos de idade, nome
aquele que ninguém na casa tinha conhecimento.
JARBAS – Boa noite, meu
irmão. Que a paz de Jesus esteja contigo. É hoje que você vai nos segurar aqui
até a meia noite?
ALFREDO – Eu estarei sempre a disposição de vocês, dentro
do que puder ser útil, sem a pretensão de querer monopolizar a comunicação
aqui. Fui escalado pelo nosso irmão, mentor dos trabalhos desta casa, a ser o
primeiro a comunicar, o que me sugere a idéia de que ele deve ter gostado do
que conversamos da vez passada, não é Neuzinha? Não te vi aqui, semana
passada.”
NEUZINHA – “É Alfredo, semana passada não deu
pra eu vir, mas eu soube de tudo o que aconteceu e amei, viu?”
JARBAS – “Como você está
vendo, meu irmão, esta sala hoje está cheia, o que não é normal, devido aos
comentários sobre o que ocorreu aqui, semana passada.”
ALFREDO – “O que houve de tão extraordinário, semana
passada, Jarbas? Terá sido pelas minhas palavras ou de algum dos espíritos que
me antecederam?”
JARBAS – “Claro que
foram pelas suas palavras, companheiro. Os outros espíritos que se comunicaram
antes de você eram todos sofredores, em busca de socorro”.
ALFREDO – “Eu estou sabendo. Tenho estado presente neste centro a semana
inteira, acompanhando os diversos comentários, alguns até engraçados, e neste
momento este obsessor aqui está pronto, inclusive, para ser doutrinado. Mas já
que obsessor pode ter as suas preferências, eu gostaria de escolher, se o nobre
Jarbas me permite, quem eu quero para ser meu doutrinador, que é o seu João,
dada a condição de mais velho na casa, sob esses cabelos brancos, destacado
trabalhador há tantos anos, já que ele durante muito tempo ajudou o meu pai a
me educar aqui nesta casa. Lembra do garoto que esvaziou os pneus do seu carro,
e que o senhor levantou pelas orelhas, seu João? Era eu”.
Seu João estava bastante desconfortável no ambiente, coçava a cabeça
branca, respirava forte, era visível o seu nervosismo, por parte das pessoas
que estavam apertadas nas cadeiras ao seu lado.
SEU JOÃO – “Você me permite falar com o espírito,
Jarbas?”
JARBAS – “Claro, seu João,
claro! como não?”
SEU JOÃO – “Você é filho do Silveira?”
ALFREDO – “Tive a felicidade de ser filho dele, sim, na última
encarnação.”
SEU JOÃO – “Bom, se você foi mesmo o filho do
Silveira, você deve saber que o seu pai foi um dos grandes espíritas,
contemporâneo de Herculano Pires, do Comandante Edgard Armond, homem
disciplinado e muito cuidadoso para com a doutrina. Você acha que ele aprovaria
essa sua maneira de se comunicar, numa reunião mediúnica, apresentando-se como
espírito orientador na casa?”
ALFREDO – “Bom seria se o velho amigo estivesse presente na
reunião da semana passada. Se algum companheiro o disse que apresentei-me como
espírito orientador, não deve ter observado bem a minha proposta...”
JARBAS – “Ele não se
apresentou como espírito orientador e nem mentor, seu João.”
SEU JOÃO – “Tá bom, tá bom, foi o modo de dizer... mas
o que nos preocupa são essas novidades que são trazidas para a casa espírita,
que vêm causando muito problema para a doutrina, que tem a sua disciplina e os
seus postulados muito bem definidos. A casa tem uma orientação que deve ser
obedecida e temos que ter muito cuidado com tudo o que se faz aqui”.
ALFREDO – “Ótimo, seu João, acho que não errei na minha preferência,
quando disse que gostaria que o senhor fosse o meu doutrinador. A crer que o
senhor, como espírita sério que é, tenha tido o cuidado de tomar conhecimento
daquilo que verdadeiramente fora dito aqui na semana passada, em que pese e
equívoco inicial de ter entendido que eu tenha me apresentado como espírito
orientador, eu, como vários espíritos que durante um extenso tempo se dispõem a
receber as orientações dos doutrinadores da casa, também estou à disposição do
senhor, do Jarbas e de qualquer outro companheiro ou companheira que possam
apontar quais foram os possíveis desvios doutrinários cometidos no último
encontro com estes trabalhadores, para que eu possa corrigir-me, no aprendizado
constante de todos nós.”
SEU JOÃO – “Eu tomei conhecimento de que houve uma
desobediência à disciplina da casa espírita, quando um espírito aqui se
comunicou recomendando a indisciplina quanto ao cumprimento de horários”.
ALFREDO – “Talvez eu esteja mesmo trazendo novidades para o movimento
espírita, seu João, mas um tipo de novidade que não é tão novidade assim,
porque Allan Kardec, fiel aos ensinamentos de Jesus, recomendou sempre a busca
pela verdade que liberta, o que sugere aos espíritas, todos, apurarem todas as
verdades, antes de tomar as suas conclusões e decisões, cuidado esse que não
vem sendo observado com a relevância que merece, daí caracterizando aquilo que
de fato deve ser abolido do nosso movimento que é a atitude injusta em
decorrência da precipitação e das idéias preconcebidas”.
SEU JOÃO – “O que você quer dizer com isto? Onde você
quer chegar? Por acaso, não foi isto mesmo que ocorreu, semana passada?”
ALFREDO – “Não, senhor João, não foi isto. Não cheguei ao nível dos
espíritos mais evoluídos da esfera espiritual, todavia não estou mais na
infância da prática espírita a ponto de cometer equívocos tão elementares, como
transgressão a disciplina. O que sugiro é que o movimento espírita disponha-se
a distinguir entre o que é disciplina e o que é intolerância, extremismo,
inflexibilidade e ausência de bom senso. É equivocado, respeitável companheiro,
entender que o estabelecimento rigoroso de um tempo pré determinado entres os
zeros minutos e zeros segundos de um período de horas cheias seja característica
que autentique a disciplina.
Quando Camille Flammarion, diante das últimas homenagens ao insigne
Allan Kardec, o qualificou como “O Bom Senso Encarnado”, quis sugerir ao
movimento espírita seguir o codificador em toda a sua conduta,
enquanto espírita, principalmente quanto ao bom senso.”
JARBAS – “Alfredo nos
sugeriu mais diálogos entre nós encarnados e os desencarnados, seu João,
sugeriu também que fizéssemos estes diálogos entre os dois planos, com mais
naturalidade, sem muita formalidade, dando a todos os direito de conversar a
vontade com os espíritos, nas mediúnicas, como conversamos no dia-a-dia com as
pessoas que estão conosco aqui neste plano terreno. Eu também tive dificuldades
em entender isto, em primeiro momento.”
LOURDES – “Se você permite, Jarbas, ele sugeriu também que
estabelecêssemos encontros com os desencarnados, para diálogos em grupos, sem
preocupação com horários rígidos para encerrar, desde que tivéssemos dispostos
a esses diálogos com liberdade de tempo, podendo todo mundo conversar
descontraidamente, e até sorrir, se tiver com vontade de sorrir, como num
diálogo entre encarnados”.
CLÓVIS – “E também deixou claro que isto não deveria ser
estabelecido como rotina, para não levar ninguém a sacrifício e desgaste físico”.
ALFREDO – “Vocês entenderam bem, meus amigos, a proposta que lhes fiz.
Allan Kardec, que passou toda a sua vida espírita dialogando com espíritos,
nunca se viu na necessidade de falar com desencarnados com a mão tapando rosto
ou com olhos fechados, ele sempre dialogava com naturalidade e o retrato disto
está na Revista Espírita, carregada de diálogos mediúnicos, da primeira à
última edição.
Há várias características de Allan Kardec, como trabalhador espírita,
que seriam recomendáveis ao movimento espírita conhecer melhor, que talvez vos
inspirassem a repensar certos comportamentos.
Tomemos como exemplo um detalhe no momento do sepultamento do seu corpo,
quando ele foi saudado em discursos pelos Srs. Levent, Camille Flammarion,
Alexandre Delanne e E. Muller. Todos os discursos elogiosos a ele, enaltecendo
as suas qualidades, citando-o como homem bom, honesto, digno e
honrado, tratando-o como Mestre e todos os qualificativos que um homem de bem
deve merecer.
Logo em seguida ele, o próprio Allan Kardec, manifesta-se pela via
mediúnica respeitável dos mesmos médiuns que o auxiliaram na tarefa abençoada
da codificação da doutrina:
Procurem conhecer a mensagem, caso vocês não a conhecem ainda, e verão
que em momento algum ele, Kardec, o próprio Codificador do Espiritismo, disse
“eu não mereço esses elogios”, “eu não fui nada disto que vocês disseram”, “são
seus olhos”, muito pelo contrário, ele agradeceu a cada um dos seus quatro
amigos, pelas palavras e pelo reconhecimento ao seu trabalho, o que nos convida
a repensar o comportamento dos espíritas, quanto a humildade fantasiosa, que os
expõe ao ridículo aos olhos dos observadores que buscam uma doutrina, sincera,
sensata e coerente para seguirem.
Caso algum dos companheiros aqui presentes queira contestar o
comportamento do senhor Allan Kardec, que se pronuncie e comecemos a entender a
importância do porquê precisamos dialogar mais e trocar mais idéias entre
encarnados e desencarnados, no nosso querido movimento espírita.”
NEUZINHA – “Meu Deus. Eu também sou uma espírita que
vivo dizendo ‘São seus olhos’, pois não tinha analisado por este lado. Obrigado
Alfredo”
JARBAS – “Pra ser
sincero e honesto, meus amigos, eu nunca tive conhecimento dessa manifestação
de Kardec, com esse detalhe que o nosso irmão acaba de relatar. Vou procurar
observar. O meu irmão poderia informar onde encontrar esta mensagem?”
ALFREDO – “Veja a Revista Espírita de maio de 1869. Se possível, você que
é um cuidadoso trabalhador espírita, disponha-se a estudar bem toda a Revista
Espírita, vendo-a como a literatura mais importante depois das obras básicas do
Espiritismo”.
SEU JOÃO – “Mas o nosso irmão Chico Xavier sempre
disse que ele não valia nada, que ele era um simples pé de grama, dando-nos o
exemplo da sua humildade”.
ALFREDO – “Por causa de um estilo pessoal de viver, adotado pelo nosso
benfeitor mineiro, os espíritas acham que proclamar a auto desvalorização é
chancela para autenticar a humildade?
É preciso que observemos que Chico Xavier esteve encarnado, mas sempre
com a sua visão do espírito elevado que possuía, o que, por esta razão, era
detentor de uma visão muito ampla, enxergando em nível de galáxias, daí
vendo-se verdadeiramente com a pequenez que de fato todo homem é, em relação à
grandeza cósmica. Para o Chico dimensionar-se como insignificante, em
relação ao tamanho da moral humana, estaria ele imbuído de lamentável
hipocrisia, para nós dimensioná-lo com essa pequenez, seria miopia de nossa
parte.
Talvez teria sido melhor ele ter explicado sobre a profundidade daquela
sua visão, o que certamente teria evitado as interpretações apelativas dos
espíritas que passaram a enxergar virtuosidade no ato de falar que não valem
nada, que não significam nada e que nada do que fazem deve merecer elogio e
reconhecimento.
Mas é tempo de relembrar, também, que o próprio Emmanuel ensinou ao
Chico que em caso de dúvidas em relação a qualquer dos seus ensinamentos, os
espíritas deveriam ficar com Allan Kardec, por sê-lo a principal e mais segura
fonte de consultas dos espíritas.”
CLÓVIS – “Alfredo, se me permite, há quem diga por aí que o Chico Xavier
foi o próprio Kardec. Tem como saber a verdade sobre isto?”
ALFREDO – “Se esta informação tiver alguma relevância para o avanço do
Espiritismo e para o aperfeiçoamento moral dos espíritas, creio que poderíamos,
sim, procurar saber, todavia, eu, particularmente, não vejo qualquer
importância nisto.
As pessoas são livres para emitir as opiniões que quiserem, os espíritos
também, assim como eu aqui estou a manifestar as minhas, por laço de simpatia
com esta casa, o que não quer dizer que vocês, necessariamente, tenham que
absorvê-las e aplicar com verdade aqui na casa, por causa de uma certa empatia
que criaram comigo, a ponto até de trazer a esta sala de reunião uma lotação
que nunca foi vista antes, todos curiosos para ouvirem as minhas palavras, como
vão a um show assistir a um artista famoso.
Paulo nos sugere que ouçamos e examinemos tudo, mas que retenhamos o que
tem de bom. Lembram do alerta para examinarem se os espíritos são
verdadeiramente de Deus?
O conteúdo, não a forma, de todas as idéias e mensagens deve ser o ponto
fundamental de avaliação dos espíritas.
SEU JOÃO – “Desculpe, meu irmão, mas você está me
parecendo um espírito da escola de um tal Dr. Inácio, que existe por aí, que
vem sendo muito questionado, pois que não tem muita caridade para com o
movimento espírita.”
ALFREDO – “Ter caridade para com o movimento espírita é
chegar à mediúnica e dizer o famoso “muita paz, meus irmãos”, “que a paz de
Jesus esteja com todos”, dizer-se um espírito que não tem valor nenhum,
travestir-se da voz melosa, iludindo os irmãos com falsas esperanças de porvir
harmonioso, imiscuindo-se no universo da bondade aparente, gerando falsas
expectativas quanto ao futuro?
Reitero Paulo de Tarso e sugiro ao querido amigo que reveja se, na
mensagem deste espírito, sobre o qual fala, não tem nada de bom que possa ser
aproveitado.”
JARBAS – “Allan Kardec
recomendou que é preferível recusar nove verdades do que admitir uma mentira”.
ALFREDO – “Sim, o Codificador disse isto, mas não seria melhor que esse
pronunciamento dele fosse melhor estudado e que aprendamos a observar os
contextos em que o ensinamento se aplica?
Se nos dispomos de uma horta produtiva, que nos dá uma dezena de
variados frutos, legumes e vegetais saudáveis, ser-nos-ia inteligente destruir
toda a horta só porque em algum momento descobrimos que brotou alguma erva
daninha no terreno?
Onde estaria o bom senso encarnado que Flammarion usou para identificar
o Codificador, emprestando o mesmo qualificativo à doutrina, esperando que, por
conseqüência, os seus seguidores também o praticassem?”
Será que não estamos assassinando ideais de muitos confrades, sem nos
dar ao trabalho de analisar profundamente idéias notáveis que são trazidas em
nosso movimento, comodamente calçando-nos de respaldos no pé da letra deste
ensinamento do Mestre de Lion?
Quando não temos meios e instrumentos para analisar dez propostas que
nos chegam, com probabilidades de conseqüências danosas, aí sim, é preferível
recusar nove verdades que possam haver no meio delas, mas, a partir do momento
em que temos meios para apreciar caso a caso, proposta a proposta, mas não nos
disponibilizamos a examinar, por preguiça, descaso, indiferença, preconceito ou
por indisponibilidade de delegar a tarefa a outro, estaremos laborando em
irresponsabilidade.
SEU JOÃO – “Mas você há de convir que é muito perigoso
abrir concessões para essas novidades que tentam enxertar no movimento
espírita.”
ALFREDO – “Por que temos que reagir sempre contra as
novidades? Em qual dicionário a palavra novidade, por si só, é sinônimo de
coisa ruim?
O que você acha que aconteceria com a humanidade se a Medicina, a esse
exemplo, recusasse às novidades que a Ciência vem descobrindo a cada momento,
com objetivo de curar as enfermidades do homem e aumentar a longevidade?
Imaginem se todos recusassem a novidade da penicilina no seu tempo.
Apesar de muitos terem recusado, os poucos que aceitaram prevaleceram. Muitos
donos da verdade do passado recusaram, também, o Thomas Edson, mas felizmente
prevaleceram os poucos que o aceitaram e aí está a luz elétrica.
A Espiritualidade sempre soube das dificuldades que muitos espíritas
iriam imprimir em relação às novidades, generalizando todas como sendo
maléficas, mas, uma vez mais, ela está certa de que muitos a receberão,
examinando-as sem preconceitos.
Reitero a necessidade de examinar tudo, detalhada e criteriosamente,
antes de formar qualquer conclusão, visto que a conclusão preconceituosa
constitui-se numa das maiores contradições doutrinárias, de terríveis
conseqüências para aqueles que já são esclarecidos o suficiente para não
permitirem que cometam injustiças.
NEUZINHA – “Amigos. Eu acho que estou entendendo muito
bem o recado que o nosso irmão Alfredo está nos transmitindo, e, me desculpe
seu João, mas eu concordo integralmente com ele. De fato temos enfrentado
problemas sérios na convivência aqui mesmo em nossa casa, muito
desentendimento, muito melindre, má vontade de alguns em relação ao trabalho
dos outros. Acho que ele está nos convidando a mais diálogo, como está acontecendo
agora...”
GILBERTO – “Gente, eu nunca tinha visto uma mediúnica
com tanta gente falando assim, num diálogo como este, assim, com a presença de
um espírito. Sinceramente, eu estou gostando e gostaria muito que as mediúnicas
se conduzissem sempre assim”.
LOURDES – “Inclusive tem duas pessoas aí que estavam fora da casa espírita
há muito tempo, a Gorete e o Juarez, que estão ali sentados, que voltaram aqui,
esta noite, porque não acreditaram no que eu havia dito, que tinha aparecido um
espírito manifestando-se sugerindo descontração e diálogo mais a vontade...
Fale aí, Gorete, o que você me falou... Desculpe, Jarbas, ela pode falar um
pouquinho?”
E a Gorete, sentada numa cadeira, apertadinha no canto da sala tomou a
voz.
GORETE – “Desculpem, gente, eu não estou participando aí da mesa, mas é
rapidinho:
Eu já estou fora da casa espírita há mais de 6 anos, porque,
sinceramente, eu não estava agüentando a frieza, o mesmismo, as intolerâncias,
as faltas de sinceridades e muita gente fingida. As mediúnicas eram todas
iguais, só dava espírito sofredor, gente aqui doutrinando espírito, quando as
suas vidas, que eu conheço muito bem, não eram bem compatíveis com quem se
propõe a doutrinar espírito nenhum. Eu não via comunicações com espíritos de
luz, espíritos amigos com quem poderíamos conversar à vontade... Ah, to falando
demais. Sei que eu gostei, quando a Lourdinha me falou desse espírito aí.
Alfredo, meu irmão, quero lhe dizer que eu tô amando esta forma como você está
conduzindo aqui na casa espírita e se isto tiver continuidade eu pretendo
voltar, sim, à casa espírita, porque gosto de ambientes alegres e não ambientes
de velórios. Desculpe, gente, mas estava atravessado na garganta”.
JUAREZ – “Eu faço minhas as palavras da Gorete. Estou fora da casa
espírita há mais, tempo, 8 anos, só lendo livros e fazendo minhas preces em
casa. Vim também pela curiosidade, mas gostaria muito de voltar, caso o
ambiente no centro ficasse mesmo mais descontraído, mais humano, mais alegre e
com mais sinceridade e autenticidade, como sugere o nosso irmão Alfredo.”
JARBAS – “Meus prezados
irmãos, eu compreendo a vontade de todos vocês de falarem alguma coisa, mas
confesso que para mim, também, tudo isto que está acontecendo aqui é uma
surpresa, é uma novidade e precisamos analisar tudo com muito cuidado, pois que
estamos lidando com doutrina espírita. Creio que será necessária uma reunião de
diretoria, aqui na casa...”
ALFREDO – “Permita-me mais uma sugestão, Jarbas: Que tal a idéia de vocês
convidarem os seus irmãos espirituais a participarem, também, das reuniões de
vocês encarnados, quando discutindo os problemas da casa?”
JARBAS – “Mas isto não é
comum, companheiro. Normalmente não tem sido feito assim”.
SEU JOÃO – “É algo inadmissível, muito
perigoso, não se pode misturar as coisas. Reunião mediúnica é uma coisa e
reunião de membros de diretoria é outra”.
ALFREDO – “Mas perigoso porque, seu João? Onde há perigo no intercâmbio
entre encarnados e desencarnados. Afinal de contas, a doutrina espírita não
veio exatamente para estudar a experimentar a relação entre o mundo material e
o mundo espiritual?”
SEU JOÃO – “Você deve saber da
responsabilidade e das possibilidades de espíritos zombeteiros se fazerem
passar por espíritos orientadores, em situações dessas, que podem trazer
conseqüências imprevisíveis”.
ALFREDO – “Isto pode acontecer sim, Seu João, mas quando a casa espírita
não possui o preparo suficiente, os médiuns com o equilíbrio indispensável, a
equipe com a vigilância sempre recomendável. Ou será que vocês não confiam na
equipe da casa?”
SEU JOÃO – “Ah, sim... sim... nós confiamos, sim, em
nossa equipe. Mas a responsabilidade é muito grande e não podemos correr
riscos.”
ALFREDO – “Então porque a responsabilidade é grande, porque não se pode
correr riscos, a casa fecha as portas para as novas experiências, não se cria
nada, não se aperfeiçoa nada, fecham-se as portas para os espíritos e
acomoda-se apenas em fazer o espiritismo sem espíritos, conforme ficou
estabelecido na maior parte do movimento espírita?”
SEU JOÃO – “Meu irmão, se você diz conhecedor
da doutrina espírita, é provável que você já tenha lido que a época dos
fenômenos já passou e estamos na época do estudo da doutrina espírita.”
ALFREDO – “Será que já não passou também a época dos espíritas
considerarem o diálogo com os desencarnados como fenômenos? Isto que está
acontecendo agora, conosco, neste diálogo aberto, agradável e natural merece
ser rotulado como simples fenômeno, que deve ser abolido, por ser considerado
como algo que já passou e não é mais recomendado?”
SEU JOÃO – “Éh, meu irmão, você está deixando a gente
confuso, por um lado você tem uma certa razão, mas por outro... acho que isto
tem que ser muito bem estudado e precisamos ouvir vários companheiros, tendo
base muito sólida em Allan Kardec”.
ALFREDO – “Ótimo, seu João, é Allan Kardec mesmo que eu quero sugerir que
a casa adote como modelo, logo ele que passou toda a sua vida, enquanto
espírita, em permanente diálogo com os espíritos, conversando naturalmente, sem
limitar o que deveria e o que não deveria ser conversado com eles.
Posso assegurar ao ilustre amigo que não o estou deixando confuso, quem
o está deixando nessa situação são os conceitos congelados do movimento
espírita, que determinaram que a doutrina está pronta, que nada mais há para
aprender, que nada mais precisa ser discutido e experimentado, estabelecendo
assim o dogma espírita que se enquadra bem na instituição de uma igreja
espírita e não em uma doutrina evolutiva, progressiva e que deva acompanhar
sempre os avanços da humanidade, tanto no aspecto científico e tecnológico
quanto no moral.
Creio que, por hoje, podemos encerrar o nosso diálogo, por conta dessa
confusão confessada pelo senhor, como o espírita mais experiente aqui presente,
pressupondo-se, por conseqüência, o que deve estar passando pelas cabeças dos
que não são tão experientes, presentes nesta sala.”
NEUZINHA – “Não, Alfredo... Não, não, meu irmão... não
vá agora, o diálogo está ótimo, eu sempre sonhei com um momento deste, na
relação de espíritas com os espíritos.”
LOURDES – “Eu concordo com a Neuzinha, eu também estou
adorando e estou muito feliz e entusiasmada com este tipo de mediúnica.”
CLÓVIS – “Eu também”.
JUAREZ – “Alfredo. Eu imaginei que não voltaria mais a centro espírita
nenhum, mas depois de ter vindo aqui hoje, enchi-me de entusiasmo de novo,
estou com muita vontade de voltar a trabalhar de mãos dadas, na casa, porque
consigo ver um outro significado no Espiritismo. Aliás eu sempre pensei assim,
sempre quis um Espiritismo assim, e vivia em conflito o tempo todo com as
direções das casas e, para evitar desentendimentos e aborrecimentos, preferi
abandonar a casa espírita, o que creio que milhares e talvez até milhões de
espíritas tenham feito o mesmo...“
ALFREDO – “É verdade, Juarez, não fale em que talvez milhões estejam fora
da casa espírita, fale que com certeza milhões não freqüentam mais as casas
espíritas, visto que as casas não estão conseguindo segurar as mesmas pessoas
por muito tempo.
Muita gente tem chegado ao centro, é o que podemos observar, todavia
observemos também que as casas e os eventos espíritas vêm tendo uma
rotatividade muito grande, como se fosse um balde com capacidade para 50 litros
abaixo de uma torneira aberta que o enche de água nova entrando e água velha
saindo, sem ultrapassar a sua capacidade de apenas 50 litros.
Observem um centro ou um evento espírita que você visitou há dois anos.
Se voltar lá, hoje, verificará que apenas alguns poucos trabalhadores
permanecem, verá muitas caras novas e sentirá falta de muita gente que você
conheceu em outras épocas, que freqüentavam e que atuaram como trabalhadores,
mas que hoje não freqüentam mais. Se voltar daqui há dois anos, verificará nova
renovação, sempre assim, na absoluta ausência de crescimento.
Verificará que algumas casas registram algum crescimento, mas muito
leve, enquanto, ao mesmo tempo, outras casas experimentam redução de público.
Quando Allan Kardec, pessoalmente, fazia o Espiritismo, através das suas
viagens pela Europa, sendo ele o expositor e sendo ele o modelo de Espiritismo,
a doutrina experimentava um crescimento gigantesco, o público que chegava aos
centros não representava apenas percentuais modestos e quase imperceptíveis,
posto que ao visitar uma cidade pela primeira vez os números eram contados às
dezenas, um ano depois já se contavam às centenas, dois ou três anos depois, se
falavam sempre nos milhares... pena que a sua desencarnação rompeu também com
este crescimento.
Após a sua passagem, resolveram fazer um Espiritismo diferente daquilo
que ele praticou e o resultado todos sabem o que aconteceu na Europa e no
Mundo.
Creio que chegou a hora de debatermos esta questão, de repensarmos o que
os espíritas vêm fazendo.
Sugiro que o modelo a ser seguido seja o estabelecido por aquele que a
Espiritualidade Superior escolheu para ser o homem incumbido de codificar a
nobre e admirável doutrina dos espíritos.
Por hoje é só, voltarei em outra oportunidade, sempre que perceber a
receptividade de hoje e deixo as idéias para serem pensadas e refletidas por
todos.
Boa Noite, queridos amigos.”
Depois outros espíritos se comunicaram. O detalhe é que a maioria não
foi constituída por sofredores e sim por espíritos outros, inclusive velhos
trabalhadores da casa, espíritos conhecidos das pessoas ali presentes,
inclusive um tio do Seu João, que nunca havia dado comunicação ali, que deixou
o velho mais perplexo ainda, confuso sobre o que passara a acontecer naquele
centro espírita onde nada igual tivera acontecido antes. O impressionante é que
todos eles se comunicavam de uma forma, como se tivessem recebido alguma carta
de alforria, como se fossem exilados políticos retornando ao seu País. Foi um
"problema".
Não é preciso dizer que a maioria dos presentes adorou o que viu, saiu
entusiasmado, comentando, outros falando ao celular para dar a notícia a outras
pessoas, como algo bastante alvissareiro.
Bom, amigos, encerro o artigo por aqui e deixo o assunto para a
apreciação de todos.
Abração
Alamar Régis Carvalho