O assunto é recorrente, mas não há como ignorá-lo, até porque o exercício da mediunidade não comporta atitudes levianas, nem admite a insensatez nas suas expressões. Exige, sim, um estudo contínuo dos seus mecanismos, sobretudo quanto à necessidade de o médium filtrar as sugestões mentais exercidas pelo espírito comunicante. Em assim procedendo, conquistará, pela meditação e introspecção enobrecidas, amplos recursos de ordem psíquica, jamais se colocando a serviço de puerilidades e fantasias descabidas, fomentando a fascinação e o desequilíbrio em seus aficionados, que direcionam tudo para o campo da mediunidade.
Os
desvirtuamentos, os embustes, as infiltrações de idéias e práticas exóticas são
uma realidade em muitos "centros espíritas", de vez que o
discernimento - o norte dos médiuns - está sendo preterido pelo
"vedetismo", fruto da falta de conhecimento, da ignorância e, até, da
irresponsabilidade de dirigentes e cúmplices (quase sempre, mal intencionados),
que não visam outra coisa, a não ser o poder, a projeção, o destaque pessoal,
colocando seus interesses particulares ou os da família consangüínea, o que é
pior, (proprietários e herdeiros materiais dos centros) acima da Causa.
É
lamentável a falta de bom senso na prática mediúnica, orientada por excessiva
vaidade e arrogância dos dirigentes mandões. A adoção de práticas bizarras, ou
não afinadas com a simplicidade e pureza dos trabalhos espíritas, comprometem a
essência e o objetivo da organização Espírita, e desorientam seus
freqüentadores e assistidos. Por isso, insistiremos nesse tema, quantas vezes
forem necessárias, até que os ditos "centros espíritas" retomem a sua
real finalidade, ao invés de ludibriarem os inocentes assistidos com luzes
coloridas (cromoterapias), para higienizar auras humanas e, acreditem (!), para
tratamento de: azia, cálculo renal, coceiras, dores de dente, gripes, soluços
em crianças, verminose, frieiras, etc.. Têm centros que "engarrafam",
literalmente, os obsessores. A que ponto chegamos! Não é sem razão que,
lamentavelmente, vez ou outra, ouvimos dizerem: - Eu era espírita, mas...
Nas
atmosferas planálticas (Brasília e arredores), o apelo místico é irresistível.
Difunde-se, por aqui, uma tal desobsessão por "corrente magnética",
com um rosário de extravagantes proposições (prática "inventada" em
Brasília, por grupos que seduzem empolgados "filantrópicos de
carteirinha", através do apelo assistencialista, inoculando estranhas
práticas doutrinárias), como, por exemplo, a magnetização
"desobsessiva" para afastar Espíritos, nos mesmos moldes como se
espantam moscas varejeiras das feridas expostas. Para que se concretize esse
objetivo, recorrem à varinha de condão do "choque anímico" (!?),
através do qual os enfermos se "libertam" dos obsessores, consoante
prometem seus praticantes. Tudo isso, nada mais é do que uma tremenda
'propaganda enganosa'!
Há as
inusitadas piramideterapias; gatoterapia (?) (conheço uma pessoa que possui
cinco gatos em casa e crê, fervorosamente, que os bichanos irão
"atrair" as energias negativas, livrando-a dessas forças malignas,
imaginem); cristalterapias; apometrias, e mais uma infinidade de pias, para
todos os gostos. Isso, sem deixar de citar que, no mosaico místico de Brasília,
aplica-se, até, passes magnéticos nas paredes dos centros para
"descontaminá-las" dos maus fluidos.
Muitos
"centros espíritas", do Distrito Federal, têm distribuído uma
"milagrosa" pomada (cura tudo) do "vovô fulano-sicrano-beltrano
de tal". O que se nota, a bem da verdade, é que ainda não há rigor
suficiente das instituições espíritas para com a pulcritude doutrinária,
tão-necessária. Há os sistemas divergentes, que teimam em se alojar aqui e ali,
na tentativa de, pelo decurso do tempo, serem confundidos e aceitos como
Espiritismo a saber: ramatisismo, ubaldismo, armondismo, umbandismo, que ganham
coro na ala dos apômetras, cromoterapistas, pomadistas, cepistas (adeptos da
CEPA). Etc..
Já que
estamos desenterrando alguns ossinhos, continuemos: muitos "centros
espíritas" promovem benzeduras de objetos, roupas e fotografias.
Dedicam-se à hipnose, para pesquisas sobre vidas passadas, e fazem das reuniões
mediúnicas um espetáculo ao público. Adotam o uso do defumador, para
"espantar o mau e o mal", com hinos adequados às tais reuniões.
Há os
que só trabalham na casa espírita com vestimenta branca (simbolizando
"pureza d'alma") e o pior é que, quando indagados sobre a fonte de
tais práticas, transferem a responsabilidade de seus hábitos, aos espíritos,
afirmando não serem eles os autores das idéias, mas, sim, os "Guias"
(filosofia do guiismo). "Até no quesito 'administração do Centro
Espírita', encontramos casos circenses, em que os espíritos, através de
"médiuns confiáveis do grupo", elaboram chapas eleitorais, para a
votação de possíveis candidatos à direção da entidade, atestando a
incompetência dos encarnados para conduzirem a obra.
Há, até,
os centros (acreditem se puderem ou quiserem!) que, estatutariamente, elegem,
em caráter vitalício, os seus presidentes, futuros "mentores" do
Centro, após o desencarne. Tudo isso por inspiração de "Jesus".
Ainda
não terminou! Há outras práticas, digamos - inacreditáveis: dirigentes que
celebram casamentos, crismas, batizados, velórios (tudo no salão de reunião
pública), além das sempre "justificadas" rifas e tômbolas nos
centros, festival da caridade, tribuna para a propaganda político-partidária,
churrasco-espírita (alcunham - "almoço beneficente"), preces
cantadas, passes com bocejos, toques, ofegos, choques anímicos (?), o estalar
dos dedos, palmas, diagnósticos durante o passe pela "vidência":
sobre doenças, através de revelações sensacionalistas, provocando desajustes em
pessoas psicologicamente despreparadas. "Visualizadores" do além, que
não perdem a oportunidade de descrever "quadros" espirituais,
diagnosticar obsessões, fazer previsões e outras esquisitices mais, tudo em
nome da "doutrina". Porém, com um detalhe relevante: nunca conseguem
visualizar os próprios obsessores! Há centros que promovem cursos e palestras
sobre a "kundaline", sobre a força da "mandala", etc.. Ufa!
É por
essas e outras razões que muitos médicos da ala conservadora da psiquiatria
consideram os médiuns neuróticos, psicóticos, com desvios de personalidade, ou
esquizofrênicos. Precisamos acabar com as fantasias e muitas mistificações que
andam denegrindo o bom nome da mediunidade e do Espiritismo. Devemos dar à
mediunidade mais dignidade, pois, estando, por sua vez, tão barateada, tão
vulgarizada, acaba por perder as características de nobreza, de sensatez, de
pudor que deve revesti-la. Em razão disso, muito melhor, mais prudente, mais
razoável, mais lógico e, obrigatoriamente, necessário será que esses centros
intensifiquem as reuniões de estudo, meditação e debates racionais para, por
fim, concluírem que o Espiritismo tem uma finalidade muitíssimo além do que
pensam, é sublime por natureza. Caso contrário, deletem de seus estatutos a
terminologia
ESPÍRITA.
Não
custa lembrar que a prática espírita sem a devida base moral será,
inevitavelmente, uma incursão permanente no mundo do erro e, conseqüentemente,
das sombras.
Jorge Hessen
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