Certo ferroviário
de extinta Companhia de Estradas de Ferro, após muitos anos de trabalho,
resolveu se aposentar, cabendo a ele ensinar suas tarefas ao seu substituto. No
primeiro dia de treinamento, o futuro aposentado entregou ao funcionário
contratado para substituí-lo um martelo, explicando-lhe que o seu serviço
consistia em bater com o mesmo nas rodas dos trens que chegassem à estação. O
novo contratado perguntou por que deveria assim proceder. O ferroviário,
nervoso, respondeu-lhe irado: "Ora essa: há mais de trinta anos que eu
venho fazendo isso todos os dias e ainda não sei, e você, que apenas acaba de
chegar, já quer saber?"
(Logicamente, a
pancada na roda era para verificar, através do som produzido, se ela estava
trincada).
De maneira semelhante ao ferroviário, alguns
médiuns e dirigentes de centros espíritas vêm assim procedendo: adotando
práticas que são perigosos desvios doutrinários. Muito embora alguns deles
sejam possuidores de ilibado caráter, são desconhecedores da Doutrina Espírita
e incapazes de discernir o certo do errado. Acatam cegamente as determinações
dos espíritos comunicantes, sem qualquer questionamento se elas são ou não
condizentes com a Doutrina dos Espíritos.
Com o desencarne, o
espírito não se torna sábio, nem santo ou demônio, de uma hora para outra, como
pensam alguns. Ele continua sendo o mesmo que era antes, apenas mudando de
dimensão, tendo a mesma personalidade, os mesmos sentimentos, as mesmas
simpatias e antipatias, os mesmos conhecimentos e as mesmas necessidades, de
acordo com o seu grau de evolução. Portanto, o espírito, ao se comunicar
através do médium, transmite os conceitos que possui.
Por isso, é
necessário estudar, analisar e passar pelo crivo da razão toda e qualquer
orientação antes de levá-la a sério, verificando se ela não conflita com a
Doutrina Espírita e nem a compromete. O espírito Erasto, discípulo de Paulo,
recomenda que é preferível duvidarmos de nove verdades do que acreditarmos em
uma única mentira. Os Espíritos Superiores não se ofendem quando questionados;
ao contrário, eles se alegram com a nossa precaução doutrinária, ao passo que
os espíritos inferiores, estes sim, se ofendem e se aborrecem.
A pretexto de
atualização da Doutrina, quantas obras psicografadas por espíritos, com
pareceres conflitantes com a Codificação Kardequiana, estão sendo editadas,
gerando confusão entre os adeptos do Espiritismo! O que é mais lamentável ainda
é que algumas dessas obras são recomendadas, e até mesmo adotadas, por
dirigentes espíritas menos avisados, que, por ignorância, ingenuidade, ou mesmo
por envolvimento obsessivo, se deixam conduzir, comprometendo sobremaneira o
Cristianismo Redivivo! São bem oportunas as palavras do espírito Emmanuel,
quando afirma:
"Compreendemos,
com Allan Kardec, que, na Doutrina Espírita, foi pronunciada a primeira
palavra, mas, em face do caráter progressivo dos seus postulados, ninguém
poderá dizer a última. Na Doutrina Espírita, não se dirá que Allan Kardec foi
ultrapassado, de vez que nossos princípios avançam com o fluxo evolutivo da
própria vida e, à maneira do edifício que para crescer não prescinde do
alicerce, a Doutrina Espírita não fugirá das diretrizes primeiras, a fim de
ampliar-se em construções mais elevadas."
Sabemos que a
Doutrina codificada por Kardec é o alicerce sólido, indestrutível, feito para
sustentar um número infinito de andares, mas é necessário ter o cuidado de que
os andares a serem construídos sobre esse alicerce sejam da mesma qualidade,
estrutura e robustez, para suportarem os que forem construídos acima, caso
contrário comprometerão todo o edifício. Toda e qualquer prática fora dos
preceitos doutrinários é um andar fragilizado, que, com o tempo, ruirá. Compete
a nós, espíritas conscientes, a grande responsabilidade de preservar a pureza
do Cristianismo Redivivo, e, de forma alguma, a pretexto de tolerância cristã,
usar de condescendência para com as deturpações que invadem o Espiritismo!
Ary Lex, em seu
livro "Pureza Doutrinária", alerta-nos:
"É urgente e
fundamental que todos aqueles que tiveram a ventura de entender o Espiritismo
lutem, dia a dia, pela manutenção da pureza doutrinária. Que não se omitam. Que não se escondam atrás
de um comodismo preguiçoso, alegando que, cada qual tem o direito de adotar a
prática que quiser, e que cada qual vive a religião de acordo com seu grau de
evolução intelectual. Realmente, não temos o direito de apontar o dedo
ameaçador à face dos profitentes de outras religiões e cultos. Eles têm o
direito de ter a religião que quiserem e adotar os cultos que bem entenderem. O
que não se pode permitir é que, em nome do Espiritismo, se pratiquem atos
totalmente condenados pela Doutrina.
Amados, não deis
crédito a qualquer espírito: antes, provai os espíritos se procedem de Deus,
porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora." (S. João, 1
Epístola, Cap. IV, v. 1)
Por Sergio Ribeiro
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